sexta-feira, 12 de novembro de 2004

Nutrias-me com restos de comida de outros mundos

Mastigavas e passavas-me pela boca a comida... espécie de soro enfiado pela veia só para que pudesse sobreviver...
Estou cega mas vejo bem a tua cor.
Falhámos aqui quando misturámos paletas colando-as uma à outra e deixando as cores do lado de fora...

Sujámos as mãos que tivémos que lavar num rio poluído...
Secaram e agora cheiram mal... Tinta escura entranhada nas mãos brancas imersas em essência barata...

As paletas boiam agora no rio em busca do mar...
Vitrificam os teus olhos flácidos quando se ouvem as palavras do medo: "Amo-te"

Foges no mesmo sítio onde me olhas...

e morres deixando o espectro de quem falhou a vida por ter medo de a viver!
Não te seguirei pelas ruas ondes passas porque a minha função não é seguir-te!

Soa-me a ti... escondo-me num beco qualquer ouvindo os teus passos que ressoam até desapareceres... até eu morrer aqui... num beco sem saída...
Gostava de conhecer o teu rosto como conheço as linhas da tua mão

Mão que não tocarei nem avistarei por aí na rua

As mãos não se tocam - sentem-se

e os lábios não se beijam - entreabrem-se como a eternidade

e o teu rosto não conheço - mas olha-me fixamente e diz-me em som rouco

- és minha!