quinta-feira, 27 de julho de 2006





branca de neve...

Não fui eu que escolhi esta imagem
foi ela que me escolheu a mim

repetidamente...

branca de neve...

foi ela que me escolheu a mim...

branca de neve...

não!
nunca gostei de histórias de encantar
sempre fui esta maçã engasgada
esta morte lenta de nunca entender...
de não ter nunca respostas
para o silêncio...

(eternos queridos amantes meus...)

silêncio de nunca explicar...

branca de neve...

se me amam porque fogem vocês?
se me amam por que é que nunca...?
se me amam...
ahhh!!! se amam...porque dizem que me amam???...

branca de neve...

"és demasiado verdadeira para ser verdade..."

"és demasiado verdadeira para ser mentira..."

"és demasiado... demasiado tudo..."

"demasiado nada..."


("aziago..." talvez)

branca de neve...

se a verdade fosse o que a verdade me diz
e a mentira só este não falar...

(intuição a transbordar)

branca de neve...

"tu és o anjo!"

"e todo o anjo é terrível!"


"terrível..."

branca de neve...

"tu és o anjo que me vai salvar!"

talvez por isso...
eternamente...


branca de neve...

"tenho medo de ti!"

"tenho medo do branco que há em ti"


branca de neve...


maçãs da árvore
a única envenenada
é para mim sempre
banquete sem saciar

(serpente a enganar)

branca de neve...

que querem vocês de mim?
não sei que possa trocar...

"-queremos ser o teu grito inteiro!"

o meu grito não dá para narrar!

(solto apenas um gemido
só para experimentar...)

"pára!!! pára!!!..."

branca de neve...

" não dá para aguentar!"


engolem então
as palavras acabadas de pronunciar
grito inteiro envenenado
será que alguém o conseguirá escutar?


branca de neve...

o veneno que sou eu
anuncia sempre o vómito
vómito que é teu e teu
e não me pode manchar...

vomita estas vestes!
vomita!
para que me possa escalvar


branca de neve...

sim!!! foram vários os que escolheram cegar
vários a deixar-me sozinha
no silêncio inconfundível das lâminas...
no silêncio
de indo se deixarem ficar


(doi ainda mais esperar...)

branca de neve...

"quero-te sujar!"

"quero que sejas minha, só minha!"

"branca, imaculada, divina..."

(histórias a nacarar)

"branca do medo que me quer matar!"

"...presa, amordaçada no quarto escuro onde só eu te vou visitar!"

branca de neve....

"vou-te sujar!"

branca de neve...

"vais ser minha e só comigo vais ficar!"

branca de neve...

"come a maçã vais parar de respirar!"

AI!!!!!!!!!!

um dia cortarei o hímen com uma faca...
e lançarei às ribeiras o primeiro sangue
o sangue primeiro que sempre me percorrerá
como um frémito
e nele tingirei a roupa branca com que me vestes

(nunca me despes, nunca...)

branca de neve...

"és a mulher mais bela do mundo!"

branca de neve...

"és a mentira que só eu posso inventar!"

porque é que isso não me chega?
porque é que na altura dos corpos
fico sozinha
neste quarto sem ar!!

branca de neve...

"menina do meigo olhar"


menina, sempre menina...

quando me farão mulher?
quando me conseguirão penetrar
como se fosse
uma puta
um cão
um monstro
a filha
a irmã
a incestar

branca de neve...

fode-me para eu gritar!
eu sou feita de carne e osso
o meu branco é para estoirar!

branca de neve...

porque é que páras?
porque é que não te demoras em mim?
tu és branco do branco que eu sou
fode-me o branco
eu sou só assim!


(longo silêncio
de arrepiar)

branca de neve....
engole a maçã!
um dia o teu grito vai gritar!


(dedicado a Augusta Gerónimo)

(pintura: paula rego "branca de neve engole a maçã envenenada, 1995
pastel sobre papel montado em alumínio 170 x 150cm)


"Terror de te amar
num sítio tão frágil como o mundo



Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa"



"Que nenhuma estrela queime o teu perfil Que nenhum deus se lembre do teu nome Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido

Como o florir das ondas ordenadas."













Sophia de Mello Breyner


(foto: fernando lemos "sophia de mello breyner - a guerreira")



(um dia também conseguirei guerrear palavras como ela...)

"(...)

- és mulher porquê?


-porque é útil!

(...)"


























mario cesariny

(foto: fernando lemos "mario cezariny de vasconcellos- a mão secreta da escrita")

quarta-feira, 26 de julho de 2006



deviamos estar a chegar amor...
de madrugada

a chegar aos pés de Santiago
agradecendo-lhe a jornada e o caminho...

agradecendo-lhe o pão, o cálice, o vinho

e de mãos estendidas
rezando
orando enfim em tom calmo e baixinho...



este caminho...

ahh! que era tão longo que nos cansámos!

ahh! que era tão vasto que nos perdemos!

e a sede que tínhamos não saciámos
na concha que entreabria um fiel destino!


deviamos estar a chegar amor
e nem sequer partimos!


(foto:"santiago de compostela")
descobri que gosto do cheiro de pimenta e mel...

terça-feira, 25 de julho de 2006


Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso.

Em tudo somos atribulados, mas não esmagados;
confundidos, mas não desesperados;

perseguidos, mas não abandonados;

abatidos, mas não aniquilados.

Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus,
para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo.


Estando ainda vivos, estamos continuamente expostos à morte por causa de Jesus,
para que a vida de Jesus seja manifesta também na nossa carne mortal.

Assim, em nós opera a morte, e em vós a vida. (...)





2ª carta aos Coríntios 4,7-15

(foto: josef koudelka "czechoslovakia 1968"
moravia. olomouc. carnival)

segunda-feira, 24 de julho de 2006


no livro que sou
as estórias de amor são contos efémeros
povoados de vultos negros
e cadeiras de esperar








não, não são lamentos
é apenas um cansaço...

há sempre uma parede com marcas
há sempre um vidro por quebrar






(foto: josef koudelka "england 1974")


Sentir de novo
aquela dor


há pouco
pouco respirar

aquele amor que foi
vivido e esquecido em segredo

como ninguém

perdoar
como perdoar


há tanto tempo que eu queria mudar
queria voltar


acordar

deixar o dia passar devagar

assim ficar...


sentir de novo
aquele amor

há pouco
pouco consolar

aquela dor que foi
vivida e sofrida em silêncio


chegar de novo

sentir o amor
voltar a casa sem pensar

deixar a luz entrar

esquecer aquela mágoa sem ter medo
como ninguém

encontrar
poder encontrar

todas as coisas que eu não soube dar

saber amar


perdoar

saber perdoar


há tanto tempo que eu queria mudar
queria voltar



aceitar

deixar que o tempo te faça mudar

saber esperar...
(Rodrigo Leão-"alma mater-a casa"
foto: lilya corneli"untitled")



sexta-feira, 21 de julho de 2006


- Estou? Estás aí?

Desculpa... é que estava a ver-te mas não te vi!





















(foto: rossi mechanezidis "play figuren1")

quarta-feira, 19 de julho de 2006


no tempo em que os barcos eram de papel
éramos nós que fazíamos ondas com os nossos pés pequenos
e nelas embalávamos o corpo cansado de tanto correr e brincar...

de tanto rir e chorar...

trazíamos numa sacola a tiracolo, todo o tempo do mundo que íamos semeando em punhados por onde passávamos...

perguntavas-me tu então:

"- e os barcos? os barcos de papel não naufragam?"

e eu respondia-te com todo o carinho:

- os barcos de papel rijo amolecem no bater das ondas que fazemos com os pés...
diluem-se na água e seguem o seu curso rumo ao mar...

"- e não ficam tristes?"

- não querido, não ficam tristes porque se perdem no mar grande...

"- e não têm medo?"

- têm! têm muito medo! mas pensam:
agora o mar tem com ele os nossos sorrisos
e é feito das ondas que fazemos com os pés para amolecer os barcos
que eram nossos e que agora são dele

do mar...
e o mar é sempre tão grande...
tão maior do que nós que nunca se pode achar...


mas olha...
dorme agora pequenino, dorme como se estivesses a boiar...
no mar de papel... no mar grande de papel macio...

e tu ficavas mais descansado com a grandeza do mar...
como se sempre tivesses tido mais coragem do que eu...




depois, afagava-te os cabelos até adormeceres,
saía pé ante pé do teu quarto para não perturbar o sono livre, tão profundo!
(como o mar de papel)

apagava-te a luz do candeeiro baço para te devolver a escuridão...

(nunca te deixaria de luz acesa meu querido... só na escuridão se pode procurar a luz...
queria tanto que a procurasses quando "fosses grande"!!!)

só na espuma do mar revolto se encontram os restos de papel
dos barcos que naufragaram em nós...





(foto: aleksei pecknikov "untitled")

não imaginas...
sim! não imaginas...

o que o teu falar calou em mim
o que o teu calar falou em mim

o que a tua ausência me tornou presente...
















(somos poços imperceptíveis cujo fundo não se vê...

...pontes... só nos restam pequenas pontes...
tão frágeis que são...)




(foto: mad alice "the time you run is too insane")

segunda-feira, 17 de julho de 2006


a minha vida é uma batalha interminável

até agora quase sempre saí derrotada...

fica-me o doce sabor de nunca ter negado uma luta...


(não se pode ser derrotado antes de lutar...
até os vencidos têm nome...)










(foto:maia "ma souer méchante")

quinta-feira, 13 de julho de 2006




" (explicavas-me delicadamente:)

-jogamos sempre de lados opostos!

tu desse.
eu deste.

e procuramos não sei bem o quê entre o preto e o branco...


o que interessa é procurar...


se estás no branco - estás segura.

se estás no preto - o abismo
.

tens que empurrar-me para o abismo para não caires tu nele. essa é a regra mais importante!"


- humm...

e porque é que temos que jogar de lados opostos?


"- não faças perguntas idiotas!
porque sim!"


- e porque sim o quê?

"- humpf ( - só me faltava mais esta...)"

- porque não mergulhamos os dois no preto ou no branco?

"-ora, porque o preto e o branco são cores diferentes... não se misturam - é a lei!"

- qual lei?

"ora... ora... a lei do jogo... e agora continuemos..."

- porque não damos as mãos e caímos juntos no abismo?

"ora... porque... porque...
porque não... ficava mal...!!!
avancemos..."


-porquê?
eu e tu?
porque não? porque sim?
vá lá explica!!!

" (irritado) - fazes demasiadas perguntas pequena...

...em primeiro lugar não se dão as mãos!

isso não se usa!!! ora essa!!

e... também não se cai no abismo com alguém...

(embaraçado)
nunca vi isso pelo menos ...

- ahh!! já estou a perceber!

nunca vemos um anjo a cair
ele já está caído!

o abismo é a queda - é o anjo a cair
e cai-se sempre sozinho!


" (aliviado) -é isso menina! é isso mesmo!

CAI AGORA!!!
... mesmo sem jogares!!!
fazes demasiadas perguntas para meu gosto!



(foto: laurent orseau "playing table")

quarta-feira, 12 de julho de 2006

terça-feira, 11 de julho de 2006

terça-feira, 4 de julho de 2006


danço sempre sozinha e a minha dança é sempre o reflexo do chão onde me vou quedar...




















(foto:susan probst - untitled)