sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

dias de calar


às vezes penso que seria bom sentir a reclusão das horas...

já pensei muitas vezes tornar-me monja
daquelas despojadas do mais ínfimo bem
descalças no chão mais frio...




o silêncio atrai-me como me atraem todas as coisas inatingíveis
como me atraiem todas as coisas indizíveis

penso muitas vezes nisso
em ser monja
principalmente quando estou assim como hoje...
frágil... prestes a quebrar...



quem comigo passa algumas horas
sabe bem do quanto as minhas palavras podem ser lâminas
gumes rasgando a pele
do quanto podem vir a ser ferida

basta que alguém me diga uma sílaba no momento exacto de detonar
basta que eu tente chegar ao fundo, em queda, ao abismo de mim...



as palavras...
os dias do calar falhado
as palavras...

a saída de som com que as pronuncio
a modulação lacerada pela boca
o impacto de cada letra no corpo em frente
alvo fácil para onde direcciono a minha raiva...

palavras
frias... cortantes...

o choro evaporado de as ter dito assim... a seco...



é premente que existam dias de calar...
para que ninguém saia ferido
para que só eu possa morrer-me


calar é tentar preencher a medida certa da minha ferida
(haverá calar suficiente para isso?)



talvez se eu fosse monja...
silenciosa...
talvez...

nos dias em que consigo o silêncio das palavras
elas transformam-se em facas suicídas
vísceras atingidas
pelas setas do som
grito inaudível
esventrado



palavras...

era tão bom cala-las definitivamente...
era tão bom serem suficientes para me morrerem todas cá dentro...




os dias de calar são metrónomos tangíveis por sombras opacas
os dias de calar são cada vez mais longos e esguios
difíceis de conquistar no ruído da casa



ouço os sons
o barulho da rotina morna
apetece-me ficar quieta, parada, aqui no quarto pequeno...
fumo do incenso
a invadir o mínimo de espaço

para ser monja
talvez precisasse de me desapegar deste ícone
desta vela acesa ao final do dia...

para ser monja
talvez precisasse de abrir apenas esta mão teimosamente fechada



não teria muito a perder...
mas tenho medo...


de perder tudo o que já não tenho
de perder o que nunca tive


o teu cheiro
a pele de alguém
a respiração quente nas poucas vezes que te aninhas ao meu lado nesta cama...
e...


seria capaz de muita coisa
percorrer um país árido por um abraço
atravessar o deserto para ver um pôr-do-sol
reduzir-me a cinza em troca de um beijo

sim... seria capaz de muita coisa menos
desse silêncio parado
desse caminho caminhado
desse "cumprir" saciado


talvez nunca me venha a tornar monja
por não ter essa coragem
de assumir o choro na forma de um corpo
até ao último dia
derradeiro dia no final do som...



mas há dias de calar
são necessários para que ninguém saia ferido...


é por isso que às vezes não falo quando chego a casa
fecho à chave a porta do quarto pequeno
e fico assim, na posição reduzida
mãos agarradas às pernas magras
joelhos dobrados


feto crescido demais para poder nascer



fico assim de olhos abertos sem conseguir adormecer
a vela acesa consumindo o ar
oxigénio interior a esvair-se




talvez se eu fosse monja eu tivesse sítio em que reclinar esta cabeça
talvez se eu fosse monja eu conseguisse dormir o sono justo...
silêncio calado...


a reclusão das horas...









(foto:joannés ceyrat - "un arbre")

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

chance


"walk in silence
walk away in silence
see the danger
always danger
endless talking
life rebuilding
don't walk away
face the danger

walk in silence
don't walk away in silence
see the danger
always danger
rules are broken
false emotions
don't walk away

people like you find it easy
always in tune
walking on air
they're hunting in packs
by the rivers
throught the streets
it may happen soon
then maybe you'll care
walk away
walk away from danger

i'm just crossing the line
trying to get back
right where i was
back where i was
see me crossing the line
don't walk away



(ian curtis - 1ª versão de "atmosphere")


http://obsessedbythissong.blogspot.com/2007/12/atmosphere.html

terça-feira, 11 de dezembro de 2007


ontem à noite uma senhora contou-me uma história de olhos tristes
sentei-me numa das últimas filas da sala 3 do king
e fiquei a ver os gestos e os poemas
a tristeza que se foi e a que ainda resta


e a senhora sempre a contar uma história
que terminou aos 23
uma história que continua aos não sei quantos...

saí para a noite fria...

apeteceu-me caminhar
só um bocadinho
entre os prédios vazios da cidade parada

de roma a entrecampos
apeteceu-me fumar um cigarro sem lume
(nem sequer tenho já por onde arder)




apeteceu-me cantar uma "weeping song"
apeteceu-me contar que há outras histórias depois dos 23
as dos que ficam sempre com aqueles que se vão


se eu contasse...


mas hoje...
hoje é dia de calar...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

poema dum funcionário cansado


"a noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita

estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com a vida às avessas a arder num quarto só

sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
débito e crédito débito e crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na conta de empregado
sou um funcionário cansado dum dia exemplar
porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

soletro velhas palavras generosas
flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música

são palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só"



(antónio ramos rosa
de, o grito claro - 1958)



(foto: gene laughter - "antique word processor")

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007


hoje pela manhã
esta estação parece-me igual a ontem à noite
algumas horas de distância e tudo igual

os comboios chegam e partem
e eu ando neles
como quem anda de barco
num alto-mar de trovoadas

na dormência acordada dos dias
vou deixando passar estações
vou acotovelando entradas
forçando saídas


(este comboio não tem destino
não pára aqui, já...porquê?)




esta estação pela manhã
parece-me igual a ontem à noite

parto cedo
chego tarde
nunca é de dia aqui


esta estação pela manhã
parece-me igual à noite



eu fiquei no cais de embarque à tua espera
passaram por mim todas as pessoas que te teriam acompanhado naquele comboio
no final de tudo
cais vazio

o revisor sai por fim
ombros pesados da viagem
caminha com a certeza refreada de capitão de um barco alvoraçado
de capitão que não teve a força de controlar as velas

caminha em direcção a mim como se viesse em recado


os olhos brilhantes de contenção
o silêncio quebrado de calar
entrega-me em mãos o teu bilhete obliterado







hoje pela manhã
esta estação parece-me igual à noite
alguns anos de distância e tudo igual











(foto:cédric friggeri- "train")

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

segunda-feira, 26 de novembro de 2007


"não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século aminha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

não posso adiar o coração"






(antónio ramos rosa
de viagem através duma nebulosa,1960)







(foto:lilya corneli -"patchwork series")

sábado, 24 de novembro de 2007



estou apaixonada
e nem por isso me sinto mais feliz...




como dizer-te que serei sempre esta ferida aberta?







(foto:berenika - "(...)")

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

repara: do negro à cor...

Caracol da Graça (Mazurca)






sempre pensei nunca interferir com o silêncio que aqui encontrei...

mas...

há silêncios que se geram na melodia dos corpos
e a dança é outra forma de fazer dançar palavras
sem ruído...








(um dia prometi que ainda iríamos dançar uma mazurca ao relento...
... desde aí passei a ser como tu... e perguntei-te:

" - tu que és feito de esperar:
o que se pode esperar da espera?...

- dança menina! dança! (pareceu-me ouvir-te dizer...) "
)


saudade...


(música: folear)

domingo, 18 de novembro de 2007

um caminho de palavras


"Sem dizer fogo - vou para ele. Sem enunciar as pedras, sei que as piso - duramente, são pedras e não são ervas. O vento é fresco: sei que é vento, mas sabe-me a fresco ao mesmo tempo que a vento. Tudo o que sei, já lá está, mas não estão os meus passos nem os meus braços. Por isso caminho, caminho, porque há um intervalo entre tudo e eu, e nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho.

Mas entre mim e os meus passos há um intervalo também: então invento os meus passos e o meu próprio caminho. E com palavras de vento e de pedras, invento o vento e as pedras, caminho um caminho de palavras.

caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim

e porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-me sol porque o sol existe

mas a noite existe
e a palavra sabe-o"






antónio ramos rosa
de sobre o rosto da terra, 1961




(gosto de pensar que este poema me descreve)




(foto:jeff hahn - "ocean dream")

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

hospital


o som cavo no final do corredor
a veia enfiada na agulha
o nome numa cama numerada
horas de espera acumuladas em dias


arquejo final em tom de requiem







(foto:thomas ville - "hospital")

quarta-feira, 14 de novembro de 2007


"Let the show begin
It's a sorry sight
Let it all deceive
Now I'm
Pains in me that I've never found

Let the show begin
Let the clouds roll
There's a life to be found in this world
And now I see it's all but a game
That we hope to achieve
What we can
What we will
What we did suddenly

But it's all just a show
A time for us and the words we'll never know
And daylight comes and fades with the tide
And I'm here to stay

But it's all just a show
A time for us and the words we'll never know
And daylight comes and fades with the tide
I'm here to stay"






(letra:beth gibbons and rustin man - show
foto: cig harvey - tread softly series)





(http://obsessedbythissong.blogspot.com/2007/11/show.html)

o incêndio dos pássaros
é a voz acutilante
num piar breve








(foto:armindo dias - "i'm a bird now")

segunda-feira, 12 de novembro de 2007


"Soon this space will be too small
And I'll go oustide
To the huge illside
Where the wild winds blow
And the cold stars shine

I'll put my foot
On the living road
And be carried from here
To the heart of the world

I'll be strong as a ship
And wise as a wale
And I'll say the three words
That will save us all
And I'll say the three words
That will save us all

Soon this space will be too small
And I'll laugh so hard
That the walls cave in

The I'll die three times
And be born again
In a little box
With a golden key
And a flying fish
Will set me free

Soon this space will be too small
All my veins and bones
Will be burned to dust
You can throw me into
A black iron pot
And my dust will tell
What my flesh would not

Soon this space will be too small
And I'll go oustide
And I'll go oustide
And I'll go oustide"





(letra: lhasa de sela - "soon this place will be too small"

foto: dawek- "untitled")

sexta-feira, 9 de novembro de 2007


será possível classificar a dor?
nomeá-la?

pergunto-te isto porque no outro dia lembro que choraste
porque não te dei um beijo
e disseste "és má!"
e isso magoou-me

e depois fiquei a pensar qual das dores seria a maior
a tua ou a minha?
qual das dores seria uma perda?

existirão dores maiores?
como se mede o tamanho da dor se o coração é tão pequeno?

então pensei que quando me disseram que alguém estava no céu
eu olhei para ele e era azul
e dessa vez não senti dor nenhuma
e acho até que vi um sorriso por detrás de uma nuvem
e na altura eu era pequenina e pensei que ir para o céu era uma coisa boa!
de sorrir!

mas quando desapareceste assim... da minha frente... eu tive medo e pavor e mágoa e raiva e pânico e todas as palavras com todas as letras que fizessem chorar
e estava de facto tão apavorada... tão sem nada e com tudo, que nem sequer consegui desfazer-me em água (que é coisa que faço com alguma facilidade até...)

olhei de novo para cima e choveu
e as gotas eram do tamanho de grandes lágrimas paradas
como se o inverno viesse para se instalar por dentro
como se já não houvesse mais estações no meu coração
como se nunca mais pudessem existir mais verões nem outonos...

(será que alguma vez te disse que gostava do outono?)

então comecei a classificar as dores
a dar-lhe nomes feios ou bonitos conforme a intensidade
a hierarquizá-los em crescendo de gemido:

magoar um joelho
a birra por um gelado
a perda do primeiro namorado
a primeira traição
...

e quando tu morreste pensei que só teria que te encaixar num destes patamares
que era fácil dar-te um nome e arrumar-te numa prateleira na minha vida...

foi aí que percebi que existem dores maiores
dores inclassificáveis
dores que, ainda que não queiramos, nos deixam escravos da própria dor
que se transformam numa camada de pele que passa a fazer parte de nós

quando morreste senti que outras mortes se seguiam
que nunca iria conseguir classificar... isto...

(percebi que já nunca mais te iria ver entendes?
o calor da pele... ficaste fria... e branca... tinham-me dito que o branco assusta e só percebi nessa altura porquê...)

também percebi sem entender que há certas dores que são um grito inteiro
dado ao relento daquela casa onde nunca poderemos entrar

percebi sem entender
que se houver uma hierarquia de dor
as dores maiores serão sempre aquelas que não têm nome...
serão sempre aquelas que invertem a ordem da natureza
são exactamente as que desordenam
as que nos fazem perder até aquilo que nunca tivémos

(descobri que nós não somos nossos entendes? e isso doi!)






quem perde um pai ou uma mãe é orfão
quem perde o companheiro ou companheira é viúvo


mas...
que nomes são estes?
onde estão?

quando partiste pensei que serias um acto isolado
que eu conseguiria apaziguar-te cá dentro
não ia morrer mais ninguém...

eu queria uma palavra para ti
(para que pudesse depositar nela tudo o que sinto entendes?)
como se a existência de uma palavra pudesse ser ela mesma o buraco onde te enterrar)

mas desde que partiste é ainda mais difícil
como se vivesse num mundo em que o meu alfabeto não coincide






procurei em vários dicionários de linguas estranhas até mas...
nunca consegui encontrar uma palavra para quem perde um irmão...
depois para a avó a mesma coisa...
e...

quem se segue afinal?

será que desde aí tenho que ver a morte todos os dias para te dizer que nunca acharei as palavras certas para descrever isto... aqui... cá dentro?...


e depois o pai... por um fio... tantas vezes...
vezes demais...

e vejo a mãe p.
a nossa mãe...

nunca ninguém conseguirá inventar um palavra para quem perde um filho
(essa sim, talvez seja a dor maior...)

envelheceu tanto... p.
envelheceram tanto
envelhecemos tanto p. tanto...

vês daí?... do céu?... há um céu?... de que cor?...






desde que partiste
continuo a ver muita gente morrer à minha frente todos os dias...aos bocadinhos... finos e lentos... e essa morte devagar não pára e consome...




depois da primeira morte há sempre outras...
e em todas as mortes é a nossa que se vai misturando também...


as dores maiores são inomináveis
por não terem espaço nem tempo que nelas possam caber

















"quem disse que o tempo aplacaria a minha dor?"







(foto:chuck inglefield - thoughts of mortality)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007


há definitivamente uma grande diferença entre calar-me e calar...



(foto:katia chausheva - night piece)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007


no sítio onde trabalho
há uma menina simpática que tira sangue às pessoas
as pessoas ficam picadas
e ainda assim agradecem


no sítio onde eu trabalho
há uma menina que tem um bébé por dentro
como se fosse embutido
está inchada das pernas
e em dezembro vai para casa para não se queixar mais
(acho que lhe vão abrir a barriga e tirar de lá de dentro o bébé mas isso não é para se dizer pois ela pode ficar assustada)

no sítio onde eu trabalho
a menina que tira sangue sorri
gosta do que faz
e as pessoas agradecem

algumas têm veias difíceis (diz ela na sua linguagem estranha)
outras vão várias vezes tirar sangue para ver se ele não coagula demais
algumas crianças gritam e temos que lhes pegar pelas pernas e agarrar bem os braços
para as agulhas nao se partirem por dentro da pele

eu faço bem esse trabalho, de agarrar as crianças, mas às vezes apetecia-me espernear como elas, alí mesmo, no sítio onde eu trabalho

a menina que tem um bébé embutido tem um carro azul bébé
e à vezes o marido obediente vem buscá-la para almoçar
(ela diz que não pode comer muito senão rebenta
mas mesmo que coma pouco parece que vai rebentar na mesma!)

a menina que tira sangue
tem um namorado que nunca a vem buscar
(só nos dias em que vão os dois com o carro à oficina pois isso é coisa de gajos!)


ao final da manhã passa, pelo sítio onde trabalho,
um estafeta, que leva o sangue das pessoas com ele
numa carrinha com letras

eu gosto das letras e do seu feitio
mas não gosto nada de sangue
não combina!

aparentemente as pessoas ao lerem isto dizem que o sítio onde trabalho parece invulgar

a mim parece-me só inapropriado:
- onde é que já se viu? - o sangue por aí a circular em tubinhos com códigos de barras!

e ainda por cima há pessoas que pagam para isto!



P.S.- descobri que não há pessoas de sangue azul...











(foto:claudio naboni -anxiety)

segunda-feira, 15 de outubro de 2007


eu ia no banco de trás
"apardalada de sono"(como costumavas dizer)
até que chegámos à porta da casa grande
aquela onde íamos apenas no inverno
para nos despedirmos da prima vera
que gostava de comer gelados durante o verão


olhei para ela
pelo retrovisor
e notei que a prima vera
aparecera ali
pela primeira vez
à minha frente
de sobretudo


foi estranho!
nunca pensei que a vera (a minha prima portanto)
tivesse frio e usasse sobretudo
sobretudo no inverno
na altura em que íamos à casa grande
despedirmo-nos da vera
a minha prima
que gostava de comer gelados durante o verão!







(foto:fresh water tank- (o))

quarta-feira, 19 de setembro de 2007


gostava que um dia a minha vida
fosse como estes claustros parados

pedra angular reerguida
onde pudesse encontrar por fim um nome
















(foto:tsveta andonova-"untitled")

quinta-feira, 13 de setembro de 2007


"Falling out of touch with all my
friends are somewhere getting wasted,
hope they’re staying glued together,
I have arms for them.

Take another sip of them,
it floats around and takes me over
like a little drop of ink in a glass of water

Get inside their clothes
with my green gloves
watch their videos, in their chairs.
Get inside their beds
with my green gloves
Get inside their heads, love their loves.

Cinderella through the room
I glide and swan cause I’m the best slow dancer
in the universe

Falling out of touch with all my
friends are somewhere getting wasted,
hope they’re staying glued together,
I have arms for them.

Get inside their clothes
with my green gloves
watch their videos, in their chairs.
Get inside their beds
with my green gloves
Get inside their heads, love their loves.

Now I hardly know them
and I’ll take my time
I’ll carry them over, and I’ll make them mine.

Get inside their clothes
with my green gloves
watch their videos, in their chairs.
Get inside their beds
with my green gloves
Get inside their heads, love their loves"




the national, "green gloves"





(http://obsessedbythissong.blogspot.com/2007/09/green-gloves.html)

quarta-feira, 12 de setembro de 2007




errante:



semeio onde não colho

colho onde nunca semeei


cemitério de grãos por nascer






(foto:maciek duczynski - "untitled")

sábado, 8 de setembro de 2007


a minha "necessidade de consolo é impossível de satisfazer"
















stig dagerman

(foto:monica iorio - "spleen et ideal")

sexta-feira, 7 de setembro de 2007


às vezes apodera-se de mim uma sombra tão grande

que nem o mais profundo negro a consegue igualar

(doi)





(foto:bogdan jarocki - "untitled")

quinta-feira, 6 de setembro de 2007


com medo de me perder

acabo por nunca me largar

acabo por nunca me saber ler

por nunca me decifrar





(sou esse livro aí ao canto...
lingua estranha em terra incerta)








(foto:marta laura - "read me more")



estou farta de me deixar ficar em cama alheia

e não conseguir resgatar para mim o meu próprio corpo














(sim, eu sei que nunca terei um lugar "onde reclinar a cabeça")











(foto:vampvibe - "...")

terça-feira, 4 de setembro de 2007



"Localizar-me no meu corpo significa mais do que simplesmente compreender o que significa para mim ter uma vulva, um clítoris, um útero e peitos. Significa reconhecer esta pele branca, os lugares aonde ela me tem levado, os lugares aonde ela me tem impedido ir."












adrienne rich, "rich, blood, bread and poetry: selected prose", 1979-1985


(foto:lilya corneli - blackandwhite series)



"Matar o Anjo da casa fazia parte das tarefas da mulher escritora.(...) O Anjo estava morto; o que restava agora? Poderíeis talvez dizer que o que restava era um objecto simples e comum - uma mulher jovem num quarto e um tinteiro. Por outras palavras, agora que ela se tinha livrado da falsidade, a mulher tinha apenas de ser ela própria. Ah! Mas o que significa "ser ela própria"? Isto é, o que significa ser mulher? Asseguro-vos que não sei. E tão pouco acredito que o saibais."



virginia woolf, "professions for women"



(foto:katia chausheva - ...)

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Hoppípolla




"Brosandi
Hendumst í hringi
Höldumst í hendur
Allur heimurinn óskýr
Nema þú stendur

Rennblautur
Allur rennvotur
Engin gúmmístígvél
Hlaupandi inn í okkur
Vill springa út úr skel

Vindurinn
Og útilykt af hárinu þínu
Eg lamdi eins fast og ég get
Með nefinu mínu

Hoppípolla
I engum stígvélum
Allur rennvotur (rennblautur)
I engum stígvélum

Og ég fæ blóðnasir
En ég stend alltaf upp
(Hopelandic)

Og ég fæ blóðnasir
Og ég stend alltaf upp
(Hopelandic)"







(foto:jeans - "jumping jane")
http://obsessedbythissong.blogspot.com/2007/08/hoppipolla.html


se te contasse
se te contasse desta parede
do cimentar frágil em cada viga

das noites em que ouço o vizinho
a chorar baixinho
sozinho
abafando o som

se te contasse
se te contasse desta parede
que é como se fosse papel rasgado
folhas amachucadas juntas
papel de reciclar
a fazer de biombo

se te contasse
se te contasse desta parede
trespassada de cheiros insondáveis
até aquele do refogado feito pela manhã
para levar em termo
apertado
a única refeição quente do dia

se te contasse
se te conseguisse contar desta parede
não ias querer ouvir
esta música surda
grito acordado na película mais fina da tinta











(foto:michal podobycko-(...))

quinta-feira, 16 de agosto de 2007


olho parada no tempo
como se fosse um corvo
como se me reclinasse nas gáveas

o desequilíbrio das velas

disseste um dia sobre a liberdade
que era uma espécie de navio
que era uma espécie de barca em chamas em pleno mar

relembro tudo o que disseste
e escuto ainda a tua voz

corvo perdido
nas asas do grande mar
(asas pequenas demais para serem gaivota)


desequilíbrio das velas...










(foto:sophie thouvenin - "light crow")

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

it's in our hands


"Look no further
Look no further
Look no further
Cruelest almost always to ourselves
It mustn't
Get any better
Ahhhhhh-ohh-ahh- off
It's in our hands
It always was
It's in our hands
In our hands
It's all here in our hands
It's all here in our hands
Well now aren't we scaring ourselves?
Unnecessarily
Aren't we trying to hard?
'Cause it's in our hands
It's in our hands
It's all here
It's in our hands
Look no further
Look no further
It's in our hands
It always was"












(letra:bjork
foto:grzegorz jablonski- "home incense factory")


(http://obsessedbythissong.blogspot.com/2007/08/bjork-it-in-our-hands.html)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

terça-feira, 7 de agosto de 2007













"queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar numa rosa de espuma!"



mário cesariny













(foto:laurent orseau-"seaside")

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

wolf amoung wolves



"she loves a soul
that I've never been,
a dog among dogs,
a man among men.

and every day
when I come home to her,
she holds a phantom.
she kisses and she hugs him,
and I am not
averse to how she loves him.

why must I live and walk,
unloved as what i am?
why can't I be loved as what I am:
a wolf among wolves and not as a man
among men?

she craves a home
that she can go in
a sheltered cave,
that I have never seen,
not in my life,
and not even in my dreams.

why can't I be loved as what I am:
a wolf among wolves and not as a man
among men?"










(foto:katia chausheva -"untitled"
letra: bonnie 'prince' billie)

terça-feira, 31 de julho de 2007

segunda-feira, 30 de julho de 2007




por muito que por vezes não entenda


por muito que por vezes não aceite


por muito que por vezes esperneie


intuo...








cada um tem a medida certa do seu precisar.









(foto:laurent orseau-"raven's feather")

sábado, 28 de julho de 2007


"(...) me acerco al agua

me acerco al fuego (...)"








(foto:velislava - "i don't see you falling beautiful")


(http://obsessedbythissong.blogspot.com/2007/07/con-toda-palabra.html)

sexta-feira, 27 de julho de 2007


isto por aqui está muito lamechas
muito.... arghthhh...

humm... acho que vou ter que mudar o tom de voz!

PROJECÇÃO MINHA CARA
PROJECÇÃO DE VOZ !!!











(foto:francesca woodman - "angelo per cristiano 1977-78"

uma estória de amor











as verdadeiras estórias de amor
são sempre estórias de lobos
e meninas de olhos escuros
(bacidez táctil)





são os únicos que na companhia
entendem a solidão






(fotos:laurent orseau - "lou(p)s)




"Porque é que me olhaste?
Se me tivesses visto, ter-me-ias amado"

















(foto e excerto:olga roriz-"jump-up-and-kiss-me")

terça-feira, 24 de julho de 2007



uma estória pessoal:



de vez em quando
consigo libertar-me de mim

a treva ambulante
fica por momentos parada na berma

é então que apanho boleia
num carro imprevísivel de velho

ou então vou a pé descalço
sola dos pés a tocar o orvalho da erva mais fina


"pela estrada fora"








(foto:anais heinen - "untitled")

poema de amor liquefeito



amor,água,peixes, vermelho, sangue, artérias, magno, intenso, vibrante, pulsante, amor, frio, desvario, quente, morno, sol,areia, mar, oceano, rio, ribeira, frágua, água, líquido, esperma, berma, treme, geme, veste, despe, vespa, ai, ai, ah, ãh, maçã, árvore, vida, fruto, sumo, sangue, exangue, pulsante, vulva, fulva, pénis, ténis,roupa, espalhada, casa, janela, mar,ar,rio a passar, água, mágoa, blop na água,blop, blop, blop... até afogar...





(foto:taesang-"untitled")

segunda-feira, 23 de julho de 2007



preciso de alguém que me toque
por dentro
por fora

preciso de alguém que apenas me toque

preciso de alguém que não precise de mim...


(foto:katia chausheva -"the touching")