terça-feira, 29 de setembro de 2009

da alienação

em épocas de crise
os extremos agudizam
há quem viva do material e apele ao bem-estar
há quem viva do espiritual e apele às profecias
quase todos preferem
o refúgio das palavras seguras e formatadas
o papaguear brando de slogans de felicidade empacotada em luzes de néon

e eu navego
guardo-me nas valetas de um silêncio brando
prefiro o fio da navalha que me faz existir
ondas muitas...
mar demasiado grande para lhe poder chegar
néon apagado
os vidros na mão

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

com o tempo tornamo-nos decifráveis
como cartões recortados de fundo desenhável
como peças de um lego fácil

mentes tortuosas
inspirando a puerilidade oca
as mesmas palavras
os sons todos na cabeça febril
no mercúrio por fim: ouço agora... nenhum som...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

imersos em verde
eu pensei que as paredes tinham desaparecido
e que sem elas iriamos apenas começar de novo
pela raiz
a hera colada aos nossos corpos
uma janela no vazio do verde

domingo, 6 de setembro de 2009

hoje uma criança disse que queria fingir de árvore morta
de morcego intacto na gruta profunda
tinha seis anos a criança
e eu acreditei no que dizia
acreditei assim... à primeira... só de ouvir...
as lâminas apoderam-se de nós
como se fossem já facas à nascença
ainda sem cabo
como se fossem já navalhas inquietas
como se fossem já o murmurar de uma morte premeditada
nenhum sopro de voz
o homicidio.