terça-feira, 21 de julho de 2009

há uma noite escondida
no mais claro dos dias
crianças em volta sustêm as asas
e as faces rosadas fazem-nos acreditar
que algo virá
algo virá...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

hoje ficaria assim quieta... em jeito de escuta...

"Deliver them from the book and the letter and the word
And let them read the silence bathed in soft black stars"








(antony & the johnson's
soft black stars)

quarta-feira, 8 de julho de 2009


"se a existência precede a essência, o homem, não tendo uma natureza prefixa, faz-se fazendo-se, constroi-se o que é, determina-se essência por aquilo que realiza."












não será a vontade divina já o próprio vazio - tela em branco por preencher?







in, "o existencialismo é um humanismo"
por jean paul sartre e vergílio ferreira
editorial presença 1970






(foto: sophiarui- "the empty space is our base")

terça-feira, 7 de julho de 2009

in this mood













(fotos: sophiarui - "série -agarrar a luz...")

não sabia se a tinham marcado à nascença
ou se eram vincos que a vida lhe trouxera mais tarde

escutava da sua redoma:
cá fora ouviam-se bruxas
numa praça de alcagoitas
rasgando folha a folha
as mezinhas para o chá

saía então à rua
nesses dias crescentes de circuitos fechados
e por duas moedas pequenas
comprava as ervas que fervia na pouca água que tinha
para se purificar

o muro empedrado
(intrasponível para a maior parte das criaturas)
era agora um monte de pedras
e a casa onde tomava o vaporoso líquido
era a ilusão de que um dia
poderia ser cadela
num mundo de cão








talvez a víria que trazia no braço
pudesse contar a sua estória silente









(foto: sophiarui: "retrato de víria veraz")

segunda-feira, 6 de julho de 2009

costumava morrer...


ela costumava morrer desinstalada
num xadrez imerso em pranto
numa valsa relentada
numa mazurka assustada
a roçar o espanto

ela costumava morrer em plena estrada
perto da berma
meio de nada
linha em branco














(foto: sophiarui - "when she falls...")

domingo, 5 de julho de 2009

olhem-me só estas riquezaaassss!!!






"all the accidents that happen
follow the dot
coincidense makes sense
only with you
you don't have to speak
i feel
emotional landscapes
they puzzle me

then the riddle gets solved and you push me up to this:

...state of emergency...
...how beatuiful to be!...
...state of emergency...
...is where i want to be...

all that no-one sees
you see
what's inside of me
every nerve that hurts you heal
deep inside of me
you don't have to speak - i feel
emotional landscapes
they puzzle me
confuse

then the riddle gets solved and you push me up to this:

...state of emergency...
...how beatuiful to be!...
...state of emergency...
...is where i want to be...

...state of emergency...

...state of emergency..."





bjork, joga
"homogenic" 1997

quinta-feira, 2 de julho de 2009

pena que já foram...

" estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. eu já poderia ter você com o meu corpo e minha alma. esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira.mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. não temos amado acima de todas as coisas. não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmo construímos, tememos que sejam armadilhas. não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que diga: tens medo. temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. não temos usado a palavra amor para não termos que reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada. temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. falar no que realmente importa é considerado uma gafe. não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer 'pelo menos não fui tolo' e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. temos sorrido em público do que não sorriríamos se estivessemos sozinhos. temos chamado de fraqueza nossa candura. temo-nos temido (...) e a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."






clarice lispector
in, uma aprendizagem ou o livro dos prazeres
relógio de água, 1999