não, não estava tão branco
e ao contrário da imagem
eu descia a rua desgrenhada em direcção a ti
ficaste no carro parado como se soubesses que eu iria
como se... não soubesses...
(terra de
não-saber esta em que caminhamos)
mas não... também não caminhávamos
nem estávamos parados
nem nada... daqui... entendes?
era uma espécie de espanto
uma espécie de mancha
de assombro, de negro
era uma espécie sem espécie
dois corpos sem nome
carregamos mortos nos bolsos
sem nunca podermos despir os casacos
sem nunca chegarmos a nós
mortos em bolsos sem fundo...
chamas-te vento ou ventania
eu posso chamar-me acácia ou sophia...
nada
chorei...
sabes que choro sempre que te encontro
e que choro também sempre quando partes
(de quantas chegadas e partidas precisaremos para desaprender de chorar?)
os soluços voltaram na madrugada já sem ti
contigo no corpo sem corpo
os soluços voltaram até adormecer de cansaço
de manhã
a tua camisa intacta por debaixo da almofada
nem uma gota de sangue para relembrar o crime
(nunca me perdoarei por não te saber fundir...)
(foto:torse tabletop)*cataracts - andrew bird