quinta-feira, 30 de junho de 2005

o tempo

"Quanto tempo o tempo tem?"

de que é feito um pedaço de minuto, das horas, da vida, do inefável...

Mergulho no tempo
No tempo do tempo

No tempo que não tem tempo e no "tempo que o tempo tem"

Solta-se a lenga-lenga de infância:

"o tempo perguntou ao tempo:
-Quanto tempo o tempo tem?

e o tempo respondeu ao tempo que:
-o tempo tem tanto tempo quanto o tempo o tempo tem!"

e, eu ainda não sei de que é feito o tempo...
Sei apenas que tenho todo o tempo do mundo e que não tenho comigo tempo nenhum... (porque o tempo não é nosso...)

Sei que não o sei dividir, nem sequer transportar num dos pulsos que tenho em mim...

Faz-me confusão o tempo que se perde... porque nunca se perde o tempo mas também nunca se encontra...

o tempo...

Também nunca se acha o tempo mas às vezes descobre-se...

o tempo...
ali... além...

E às vezes o tempo é beleza... a beleza que não se pode de facto tocar por não termos tempo... aqui... além...

tempo de quê?

tempo de quem?

tempo... tempo...
e o tempo leva-nos por aí, até chegarmos ao finito... até chegarmos ao infinito... (talvez com o tempo o façamos...talvez...)

e o tempo leva-nos até não conseguirmos ver o finito e o infinito do tempo... porque o tempo não se vê...

mas sente-se...

às vezes sente-se o tempo...
quando olhamos para o espelho e não nos vemos (o tempo faz com que nunca nos queiramos ver de facto ao espelho... transparentes... - precisariamos ainda de mais tempo...)

e quando olhamos para o relógio conseguimos sentir o compassar do tempo...
o toc, toc, toc que às vezes se entremeia com o toque que temos cá dentro....

toctoctoctoctoctoctoctoctooooooooooooooooooo (cá dentro)

e já não sabemos distinguir um do outro

nem o tocar do tempo
nem o tocar do peito
nem o tocar da alma

por nunca sabermos (nunca mesmo nunca sabemos...)

"quanto tempo o tempo tem"

segunda-feira, 27 de junho de 2005

A via trocada

Barraram-te

Cortaram-te o caminho pelo lado esquerdo
a via esquerda...

Dizem-te...

-circule sempre pela direita...

e tu que teimas em ir devagar pela via proibida recebes um clarão dos farois dianteiros de alguém que não conheces...

Buzinam-te, fazem-te sinais duvidosos que vês pelo espelho retrovisor

Porque é que me cortaram o lado esquerdo?
Porque é que eu não posso circular lentamente por aí? - perguntas-te

- é proibido amar...
ficar louco de desejo mas ir devagar!

- ou vais depressa ou és encandeada - são as regras do jogo!!!

-Não percebes que existem timings????
que só se passa para um outro lado num momento sempre efémero???
que a melhor maneira é espatifares-te contra as barreiras do equílibrio???

-já não tens tempo!!!
- és estranha, lentamente estranha!!
- não circulas em tempo real e esta via não é para ti!

As vozes calam-se...e tu que erraste a norma, deixaste por ora de conduzir a tua vida!