sexta-feira, 25 de agosto de 2006

das personalidades vincadas II - fedra




Introdução


fedra é uma cadela rafeira que ficou em nossa casa devido a uma das ninhadas imprevistas de daisy (sua falecida mãe).

ficámos com ela, na altura, por não termos conseguido novo dono devido, diziam,a ser enfezada e pequena em relação aos irmãos e a não ter perspectivas de sobreviver.

mimos a mais e comidinha caseira tornaram-na robusta e meiga apesar de teimosa, mal-educada, irritável, impertinente, inflexível, insubordinada, refilona etc... etc...
(apesar disso é um dos "mais-que-tudo" da família - caso que faz jus à conhecida frase "o amor é cego!")

como todos o membros da família, sai de casa de manhã (como se fosse trabalhar), vem almoçar e volta a sair até ser noite, altura essa em que regressa novamente (mantendo uma espécie de vida dupla e secreta).

a época de cio era a única época em que fedra ia à rua presa por uma trela, trela essa que teve de ir sendo substituida por várias outras trelas cada vez mais resistentes mas que ainda assim não suportavam a força imparável desta cadela rebelde.

da insuficiente resistência das trelas e dos seus donos ocorreram algumas escapadelas que resultavam sempre em ninhadas numerosas.

o pulular constante e fora do comum das hormonas de fedra levaram a que os seus "donos" (i.é. pessoas humanas com quem vive) optassem por uma resolução cirúrgica e definitiva do problema.

do cadastro de fedra (para além das escapadelas) constam: o homicídio (desconfiamos que voluntário) de uma pomba - ainda em criança, o namoro ilegítimo e fiel (mesmo após a operação) com Athos, e o arrombamento e fuga da grade do consultório veterinário aquando da primeira tentativa de cirurgia.

assim, as cenas relacionadas com o cio e ninhadas, já não poderão ser reproduzidas por semelhança em realidades próximas. Quanto às restantes, vão-se passando comummente, apenas havendo pequenas mudanças de "cenários" e " personagens".

O que vos vou narrar, são portanto excertos de algumas situações que fazem parte do nosso dia-a-dia.

ATENÇÃO-
as cenas que de seguida vão ser descritas são realidade. qualquer semelhança com a ficção é pura coincidência.





Cena I

esta cena passa-se num jardim onde fedra costuma "regar" as árvores em crescimento sendo a outra personagem interveniente uma vizinha (v.) que pelos vistos só fedra conhece;
(s.) sou eu própria.

s. passeia atribuladamente fedra, que fazendo força tenta partir a trela. Entretando aproxima-se v. que depois de ter gritado qualquer coisa imperceptível do outro da rua, atravessa de propósito a estrada, cumprimenta de soslaio s. sem interesse, e curva-se para afagar fedra dizendo:

v. - oh fedra!!! onde tens andado?
não te temos visto!!
então?
coitadinha!!! andas presa?

s. - (tentando desculpar-se)
...pois... é o cio...

(v. continua a não dar importância a s. e a fazer festas a fedra)

v. - oh fedrinha!!!
não nos tens visitado ali na loja!!
eu já andava estranhar que não aparecesses...


v. - (olhando de soslaio para s. com ar de reprovação)
agora percebo! andas presa não é coitadinha???!!!

s. - (...)



Cena II

encontro casual entre (s.) e o "rapaz castiço dos olhos azuis que brinca no jardim perto da casa onde cresci" (r.)

r. - olha! tu é que és a dona da fedra?

s. - sim...

r. - sabes uma coisa?
a fedra é a minha melhor amiga!!

s. - (em tom jucozo) ai sim??!!

r. - claro!! um dia um menino, aqui da rua em frente, queria fazer-me mal e ela defendeu-me!! pôs-se à minha frente e olhou para ele assim...


(exemplifica com os dentes arreganhados e rosnando tentando imitar fedra quando está zangada e ameaçando morder)


r. - a fedra salvou-me a vida!!
ela é a minha melhor amiga!

nunca me viste?
costumo brincar com ela aqui na rua!!!

s. - (...)

Cena III

toca a campaínha - conversa pelo intercomunicador entre (s.) e (r.)

r. - boa tarde! a fedra está?

s. - está sim!

r. - ela pode vir brincar para a rua?

s. - ...huh.... ela acabou agora de chegar da rua!...

r. - vá lá!! deixe-a lá vir brincar!!! estamos todos à espera dela!!

s. - (...)


Cena IV

a cena passa-se num café de bairro e a conversa é mantida pelo meu pai (d.) e a sr.ª do café (x.)

x. - (servindo uma água com gás natural)
sr. d. o que é que se passa com a nossa fedra?

d. - porquê d.ª x.? ela portou-se mal?

x. - costuma vir cá sempre dar-me os bons dias e hoje ainda não apareceu!

d. - (...)


Cena V

a cena passa-se num supermercado de bairro onde a minha mãe (m.) faz a compras.

(y.) é a empregada do espaço comercial.

y. -
(séria e preocupada)
dª m. a sua cadela já cá esteve à sua procura!
nem sequer entrou veja lá!...espreitou pela porta e foi-se embora!

m. -
(em tom de brincadeira)
ai foi??

y. - até tenho impressão que foi à sua procura também ali no café a no talho ao lado...

m. - (...)

Cena VI

em casa - diálogo entre (m.) e ( d.)

m. - (saindo da cozinha e falando para d. que estava na outra divisão a ver t.v.)
já tens o jantar em cima da mesa!!


(d. continua a ver tv por um tempo, passado um bocado dirige-se à cozinha)


d. - oh m. é para me servir do que está na frigideira?

m. - (gritando de outra divisão da casa)
porquê? não te chega o que está no prato?

d. - (olhando para o prato com mais atenção)
mas não serviste o prato!!!

m. -
(voltando à cozinha para rectificar, olhando para o prato limpo e sem mancha de gordura, duvidando de si-própria)

mas eu tenho a certeza que tinha servido a comida...
não me digas que estou a ficar maluca!!!

(olha para a frigideira continuando na dúvida...)
mas também não está aqui o bife que te fritei!!!

(olha por fim para fedra que observava calmamente a situação)

m. - não me digas que foste tu fedra!!
batatas e tudo!!!
não sobrou nada e lambeste o prato todo... até parece que o lavaste!!!

fedra -
(lambendo-se e gozando com m. e d.)
(...)

Cena VII

conversa ao telefone.
intervenientes: (m.) e a dona do consultório veterinário (e.) onde fedra foi internada para cirurgia

m. - tou?
olhe eu sou a dona da fedra- a cadela que deixei aí hoje para operar...
é para saber se a cirurgia correu bem!

e. - (em tom irascível)
está a perguntar-me se correu bem minha senhora?
nem sequer pudémos operá-la!!!
nunca me tinha acontecido uma coisa destas minha senhora!
a sua cadela é terrível!
nunca vi coisa assim!
quando lhe demos a injecção para ela adormecer, em vez de ficar mais calma começou a espernear de tal maneira!...
ficou tão raivosa, tão raivosa que até nos tentou morder!

m . - (perplexa)
que estranho! ela normalmente refila mas não morde!

e. - nessa altura ainda nos partiu algumas coisitas que tínhamos por ali!
então, para ver se ela acalmava colocámo-la na grade e esperámos um bocadinho no outro gabinete!!
ela continuou a fazer barulho e nós não ligámos! passado um bocado, voltámos à sala e imagine... ela tinha-nos partido a grade toda!! nunca vi uma coisa assim!!!
naquela grade já estiveram até pastores alemães e nunca me fizeram uma coisa destas!!!

m. - que estranho!! fique descansada que nós tentaremos arranjar os estragos!!!

e. - não!! não é pelo dinheiro!!
isto??
para isto vai ter que contratar um soldador!! as grade são de ferro!!!
quando vier cá buscá-la eu mostro-lhe!!!
a sr.ª vai ver que não estou a exagerar!!
não sei onde é que a sua cadela foi buscar tanta força!!!
nunca vi!!!
e além disso não sei como é que a injecção não funcionou!!! funciona sempre!

m. - então e agora? vamos ter que marcar nova cirurgia??!!

e. - nova cirurgia? eu nem sei se o médico responsável e o estagiário vão querer operá-la!!
depois disto?
é que não tá a ver!! éramos três a segurá-la!!!
nem eles que já têm tanta experiência viram alguma vez uma coisa assim!!...

m. - (...)


(foto: sophiarui "fedra's ashes")

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

das personalidades vincadas I - a laranjeira



conta-se na família que a laranjeira nas traseiras da casa branca de província sempre foi uma laranjeira teimosa.

Ora dava frutos suculentos, ora fazia greve e não deixava vislumbrar nenhum ponto laranja no entremeio dos seus ramos!

Quem se enervava com a situação era a velha Ti Piedade que ameaçava de morte a àrvore de personalidade forte.

Certa estação, em que a laranjeira deveria ter dado fruto, a Ti Piedade, já farta de tanto ralhar, pegou numa foice e ameaçou a àrvore com a lâmina em riste dizendo:

- Se não voltares a dar fruto bom, corto-te o tronco e nunca mais viverás!!!

Coincidência ou não, a partir daí, não houve ano em que a àrvore não nos premiasse com sumarentos e apetitosos frutos.

A quem quiser ofereço, hoje mesmo, um sumo de laranja, sem necessidade de adição de açúcar ou adoçante.

Tchim tchim!



(foto: sophiarui "a laranjeira da ti piedade I e II")

segunda-feira, 7 de agosto de 2006





nunca conseguirei descrever
a sensação da música fluir
na dança de uma mazurca ao relento...

(afinal também sei dançar acompanhada)




(foto:berenika "after concert")