quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006




"can you hear them?
the helicopters?

i'm in New York
no need for words now
we sit in silence

you look me

in the eye directly

you met me

i think it's wednesday

the evening

the mess we're in an
d

the city sun sets over me

night and day
i dream of
making-love

to you now baby

love-making
on-screen
impossible dream

and i have seen

the sunrise

over the river

the freeway

reminding
of
this mess we're in and


the city sun sets over me

what were you wanting?
i just want to say
don't ever change now baby

and thank you

i don't think we will meet again

and you must leave now

before the sunrise

above skyscrapers

the sin and

the mess we're in and


the city sun sets over me"

thom yorke: vocals
p.j.harvey: vocals, guitars
mick harvey: bass, keyboards
rob ellis: piano,drums

(fotos: sabine leve)


terça-feira, 21 de fevereiro de 2006


Fugi daquela casa para descobrir que nunca se foge realmente do lugar que somos...

pertenço àquelas paredes revoltas de corpos que agora deambulam no vazio de viver.

tento olhá-la de perto ( que é sempre o que o mais longe me pode oferecer)

por dentro,
no esventrar das paredes frágeis, morou já o grito calado da morte viva

(mora ainda talvez... mais calado do que o grito primeiro...)

as lágrimas que à noite se soltavam por um suspiro de paz
tornaram o chão negro e impregnado da vida incómoda das larvas

alimentamo-las sempre que podemos com o sopro da raiva de não estares connosco...

(coitados de nós...
dos nós que trazemos...
ainda não chegou o tempo da verdadeira percepção do que foste e és em nós nos nós...)


o passado é sempre uma cutícula de pele morta que dá lugar à célula nova,
tinta fresca com o cheiro abafado da tua carne

antes de as pintarem misturei-me no papel das paredes para que não se perdesse o odor que ainda guardo de ti...

olha como o meu cheiro se mistura com o teu...
olha como a morte vive cá dentro... tão forte...ainda...!

"quem disse que o tempo aplacaria a minha dor?"

estás ainda tão cá dentro querida p.!

(foto: francesca woodman)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

espera




a espera é sempre um véu verde delicado enrolado nos ombros do desejo
saudade daquilo que ainda não soube acontecer...


(- tu que és feito de esperar... o que se pode esperar da espera?- perguntei-te eu um dia... lembras?)

(foto:lilya corneli "expectation 1,2 e 3")

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

you are welcome to elsinore


"Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam e podem dar-nos morte

violar-nos

tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo


Entre nós e as palavras há perfis ardentes

espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas

portas por abrir

e escadas
e ponteiros

e crianças sentadas à espera do seu tempo e do seu precipício.

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida

há palavras de morte

há palavras imensas que esperam por nós e outras frágeis que cansaram de esperar

há palavras acesas como barcos
e há palavras-homem
palavras que guardam o seu segredo e a sua posição


Entre nós e as palavras
surdamente

as mãos e as paredes de elsinore

e há palavras e nocturnas palavras gemido
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamante

palavras nunca escritas

palavras impossíveis de escrever por não termos connosco cordas de violino

nem todo o sangue do mundo

nem todo o amplexo do ar

e os braços dos amantes escrevem muito alto

muito além do azul onde oxidados morrem


palavras maternais

só sombra

só espasmo

só amor

só solidão desfeita

entre nós e as palavras os emparedados

e entre nós e as palavras o nosso dever falar..."
mário cesariny
(foto: francesca woodman "on being an angel")

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006



"De Ulisses ela aprendera a ter coragem de ter fé - muita coragem, fé em quê? Na própria fé, que a fé pode ser um grande susto, pode significar cair no abismo, Lóri tinha medo de cair no abismo e segurava-se numa das mãos de Ulisses enquanto a outra mão de Ulisses empurrava-a para o abismo - em breve ela teria que soltar a mão menos forte do que a que a empurrava, e cair, a vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre.

A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano"

clarice lispector
in, "uma aprendizagem ou o livro dos prazeres"
relógio de água,1999

(foto: viktor ivanovski)