"Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam e podem dar-nos morte
violar-nos
tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo
Entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas
portas por abrir
e escadas
e ponteiros
e crianças sentadas à espera do seu tempo e do seu precipício.
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida
há palavras de morte
há palavras imensas que esperam por nós e outras frágeis que cansaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras-homem
palavras que guardam o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras
surdamente
as mãos e as paredes de elsinore
e há palavras e nocturnas palavras gemido
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamante
palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever por não termos connosco cordas de violino
nem todo o sangue do mundo
nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais
só sombra
só espasmo
só amor
só solidão desfeita
entre nós e as palavras os emparedados
e entre nós e as palavras o nosso dever falar..."
mário cesariny
(foto: francesca woodman "on being an angel")
2 comentários:
tal como o jovem príncipe hamlet, sophia, também nós vivemos cercados por muralhas.
e a utilização das palavras é difícil e perigosa, porque "entre nós e as palavras, há metal fundente", mas no entanto, "entre nós e as palavras" existe, imperativo, esse " dever falar".
cesariny, poeta maior.
um grande abraço, afectuoso.
Sofía, bellísimo el poema de Cesariny. Ya lo conocía bien. Lo oí recitar con voz recia y matizada. Vaciada el alma en cada sílaba.Y la emoción puso temblor en mi corazón.
La Palabra hecha carne habita en nuestra tierra hecha alimento del caminante.
La Palabra es mediadora entre el hombre y Dios. Y trasmite amor que funde el hielo y posibilita la comunicación.
Un fortísimo abrazo.
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