terça-feira, 21 de fevereiro de 2006
Fugi daquela casa para descobrir que nunca se foge realmente do lugar que somos...
pertenço àquelas paredes revoltas de corpos que agora deambulam no vazio de viver.
tento olhá-la de perto ( que é sempre o que o mais longe me pode oferecer)
por dentro,
no esventrar das paredes frágeis, morou já o grito calado da morte viva
(mora ainda talvez... mais calado do que o grito primeiro...)
as lágrimas que à noite se soltavam por um suspiro de paz
tornaram o chão negro e impregnado da vida incómoda das larvas
alimentamo-las sempre que podemos com o sopro da raiva de não estares connosco...
(coitados de nós...
dos nós que trazemos...
ainda não chegou o tempo da verdadeira percepção do que foste e és em nós nos nós...)
o passado é sempre uma cutícula de pele morta que dá lugar à célula nova,
tinta fresca com o cheiro abafado da tua carne
antes de as pintarem misturei-me no papel das paredes para que não se perdesse o odor que ainda guardo de ti...
olha como o meu cheiro se mistura com o teu...
olha como a morte vive cá dentro... tão forte...ainda...!
"quem disse que o tempo aplacaria a minha dor?"
estás ainda tão cá dentro querida p.!
(foto: francesca woodman)
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1 comentário:
brilhante... como todos os teus textos sobre este assunto o são...
têm a força de um sentimento maduro, trabalhado... então tudo o que sai, ainda que há força de cuspo é... intensíssimo...
1 bj gigante...
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