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Fugi daquela casa para descobrir que nunca se foge realmente do lugar que somos...
pertenço àquelas paredes revoltas de corpos que agora deambulam no vazio de viver.
tento olhá-la de perto ( que é sempre o que o mais longe me pode oferecer)
por dentro,
no esventrar das paredes frágeis, morou já o grito calado da morte viva
(mora ainda talvez... mais calado do que o grito primeiro...)
as lágrimas que à noite se soltavam por um suspiro de paz
tornaram o chão negro e impregnado da vida incómoda das larvas
alimentamo-las sempre que podemos com o sopro da raiva de não estares connosco...
(coitados de nós...
dos nós que trazemos...
ainda não chegou o tempo da verdadeira percepção do que foste e és em nós nos nós...)
o passado é sempre uma cutícula de pele morta que dá lugar à célula nova,
tinta fresca com o cheiro abafado da tua carne
antes de as pintarem misturei-me no papel das paredes para que não se perdesse o odor que ainda guardo de ti...
olha como o meu cheiro se mistura com o teu...
olha como a morte vive cá dentro... tão forte...ainda...!
"quem disse que o tempo aplacaria a minha dor?"
estás ainda tão cá dentro querida p.!
(foto: francesca woodman)
1 comentário:
brilhante... como todos os teus textos sobre este assunto o são...
têm a força de um sentimento maduro, trabalhado... então tudo o que sai, ainda que há força de cuspo é... intensíssimo...
1 bj gigante...
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