quinta-feira, 31 de março de 2005

a escada escura

subo a escadaria escura
o incontornável som da madeira rangente
os bichos que a corroem no silêncio

não acendo a luz
(nunca acendo a luz com o desejo secreto que me descubras no breu)

vou desfazendo a escada a cada subida
a cada descida
a cada passo
o esmigalhar lento como a uma espécie de bolacha
farinha que vou deixando como um rasto

chego ao patamar emprestado
alugado à pressa para se poder viver

estás sentado à minha espera

pergunto-te: porque me esperas?
respondes: "porque é (sempre) útil" esperar-te!

sou ali mesmo o pedaço de chão que esmigalhei há instantes
o vão de escada
(em vão...)

Sem comentários: