sexta-feira, 1 de abril de 2005

a janela

da minha janela eu via o mar
e a lonjura dos teus olhos fizeram-me sonhar

sonhar que havia um mundo para além
sonhar que um dia eu deixaria de ser ninguém

na minha janela
deixei de te ver ao ver-te
(ver-te com ela da minha janela)
e os olhos outrora belos se turvaram
não por serem baços
não por se firmarem
mas porque a verdade nem sempre trás com ela o mar da minha janela

e em silêncio os sonhos se ficaram
a maresia voltou a entristecer
e os teus olhos agora desvitrificados deixaram-me cadáver
ainda antes do anoitecer
ainda antes da morte me deixar morrer

continuo a tentar ver-te da minha janela
não para que me apareças nela
mas para que a beleza voltasse a permanecer bela


e o sol... o sol da minha janela voltasse a unir-se ao mar
a fazer-me sonhar nos longos traços da lonjura inicial
como se da morte surgisse a Luz primordial
e eu voltasse a ver de facto o mar
o mar que de lá de longe me chama de novo a amar
o mar que antigamente se via da minha janela

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