quinta-feira, 29 de setembro de 2005

a aprendizagem da felicidade


deviamos aprender desde pequenos acerca da beleza...

acerca da beleza que a própria fragilidade pode conter...

acerca da felicidade...


porque a felicidade é também uma escolha...

que se aprende...

devagar...

lentamente...

com a beleza do que fomos, do que somos, do que podemos vir a ser... (ou não...)

devíamos aprender desde pequenos certas coisas...

mesmo aquelas que nunca poderemos vir a aprender... (aqui...)


(foto: angelle)

sexta-feira, 23 de setembro de 2005


rezo por ti desde que partiste naquela primavera, deixando em nós um imenso inverno...


(foto: antónio manuel pinto da silva)

retrato inquebrável


reencontro-te sempre nos destroços de mim!
Sorris-me e dizes-me ao ouvido: "Até breve!"

depois soltas uma gargalhada profunda e contagiante e sais a correr num vestido branco que esvoaça até se perder de vista...

é engraçado...
...só me lembro de te ouvir "gargalhar"quando ainda éramos crianças e "ninguém estava morto" (por dentro... por fora)

Dizem que quem morre jovem permanece jovem eternamente...

Guardo cá dentro o teu retrato... emoldurado no que deixaste em mim!

(foto: angelle)

o dia em que morreste para te sentires viva


Vigiávamo-nos mutuamente...

eu para que vivesses
a mãe para que continuasses viva
tu para que te deixássemos morrer

fingiste dormir

querias dormir eternamente

acreditámos que dormias só por instantes

levantaste-te em surdina
escolheste a hora da troca
(eu e a mãe fazíamos turnos para te vigiar...tu sabias...)
calculaste a hora!

nesse dia cheguei tarde
nesse dia a mãe partiu cedo
(mentiras com que nos enganamos ainda hoje)

para ti era tarde demais para ser cedo

(ainda sentimos a culpa de não saber se devíamos chegar ou partir)

escolheste aquela linha... um caminho...
(tinhas escolhido vários e nunca resultara - será porque te vigiámos sempre?)

encostaste o pescoço junto ao ferro...

(deves ter sentido o chegar da morte
deves ter sentido o chegar da vida)

o comboio passou...

descobrimos que se chega sempre tarde
e que o longe é sempre perto demais

lembro-me de um punhado de terra que te lancei na campa
e todos os dias vejo na mãe a lágrima que nunca cessa!

(foto: luís ferreira)

sábado, 17 de setembro de 2005


"Silêncio. Gostava de conseguir um grande silêncio. Por fora e por dentro. Grande e profundo como a morte. Um sono absolutamente branco. E um dia ser despertada por um pingo de sol. E voltar limpa a fazer tudo de novo.Tudo. Ser em cada momento do tempo o fim e o príncipio de tudo."

Carlos Alberto Machado
Aquitanta
(foto: alberto monteiro)

terça-feira, 13 de setembro de 2005


de quantas luzes apagadas precisaremos para reencontrarmos a verdadeira Luz?...

(foto: anne marie tornabene)

a terra que vem de ti


Irrompeste da terra como uma flor inesperada que ainda não conhece as suas próprias raízes...

(estive encostada ao chão durante muito tempo tentando escutar-te... nunca te ouvi... e quase adormeci ali ao relento... )

Quando irrompeste senti o odor da terra molhada
do Outono... da minha casa...

conheci-te no Verão com um calor imenso
e isso é estranho ...
porque sempre tiveste esse cheiro...

desde aí que rego a terra para que não perca esse odor...

(foto: ernesto timor)

quinta-feira, 8 de setembro de 2005


gosto da cor que fica
quando as canetas rebentam em bebedeiras de azul ou negro
e por elas passa o alcool
que limpando em vão
a nódoa fica
e por debaixo ressalta
a velha e primeira escrita

(foto: Daniel Duvall)

terça-feira, 6 de setembro de 2005

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

o jogo


jogo contigo o jogo das contas
pedaços de vida que lanço sobre a mesa
contas incontáveis, inenarráveis... inexplicáveis...

jogo até à derradeira jogada...

Até lá tens-me nua à tua frente!