Silenciar o silêncio
para incendiar o grito...
quarta-feira, 28 de março de 2007
(talvez tenha percebido só agora...)
que a fé e o amor não são "coisas" de atenuar vida nenhuma
são elas as verdadeiras "coisas do Alto"
(...é a dor levada ao mais Alto dos cumes...)
(foto:michal matusiewicz - "afghanistan")
segunda-feira, 26 de março de 2007
vem assim recolher o meu corpo das águas frágeis
de um copo
de uma taça
da cor rubra do vinho
da vida que me deste num presente de escorrer por entre as mãos
vem assim recolher-me no mais íntimo do líquido
no mais profundo de madrugadas embebidas demais...
em que te recolho eu
(trocando os papéis)
olhando os teus olhos já mortos
que todos os dias vejo perto demais
(sinto-te a ir...)
(foto:liliana dvorianova - "sea")
quarta-feira, 21 de março de 2007
"Little children snuggle
under soft black stars
And if you look into their eyes
soft black stars
Deliver them from the book
and the letter and the word
And let them read the silence
bathed in soft black stars
Let them trace the raindrops
under soft black stars
Let them follow whispers
and scare away the night
Let them kiss the featherbreath
of soft black stars
And let them ride their horses
licked by the wind and the snow
And tip-toe into twilight
where we all one day will go
Caressed with tenderness
and with no fear at all
Their faces shining river gold
brushed by soft black stars
And angels' wings shall soothe their cares
And all the birds shall sing at dawn
Blessed and wet with joy
You and i will meet one day
Under the night sky
lit by soft black stars"
(letra:current 93
cover: anthony and the johnson's
"soft black stars"
foto:angelle - "finie")
na mesma noite em que nos abraçamos
...há sempre um momento em que nos acendemos...
... há sempre um momento em que nos apagamos...
e regressando a nós assim ficamos... nem ler o ser sabemos...
(fotos:elena retfalvi - "bedtime serie")
terça-feira, 6 de março de 2007
laranja de voar
estava eu em casa
pela janela a olhar
quando vi no céu
uma laranja a voar
num primeiro impulso
chamei-a dali
era tudo tão estranho
que não me apercebi!
abri a janela
de par em par
uma situação destas
tem que se observar!!
e ainda a medo
espreitei pela janela
e por fim acenei
para que entrasse nela
esgueirei-me um pouco
e ela veio-me ter à mão
será ela um pássaro?
será uma laranja ou não?
olhei bem para ela
e perguntei-lhe - "quem és?"
e em silêncio ela olhou-me
da cabeça aos pés
mas esta laranja
era muito expedita
e moveu-me a mão
como arma de escrita
nada me dizia
ao meu fraco perceber
como se falasse em código
de nunca entender
e levava-me a mão
onde bem queria
dando-me a ilusão
que eu no ar escrevia
de repente saltou
e eu surpreendida...
que vai ela fazer?
estará de partida?
estava apenas a brincar
e saltou novamente
e veio repousar em mim
serenamente
decidi pegar-lhe
e guiá-la eu
em redor de um formato
que era igual ao seu
fiquei a compará-la
com a chaminé
do telhado da casa
do tio Zé
ela achou piada
ao que eu fazia
e tomou-me a mão
retomou o que escrevia
e eu já não sabia
se era ela a escrever
ou se era eu
que por ela escrevia
andávamos as duas
no limiar do medo
de que alguma perdesse
a mão ao enredo
e ali à voltas
do buraco negro
desapareceu-me a imagem...
como num bruxedo...
ficou-me na mão
o formato dela
vem laranja!! vem!!
retorna à janela!
e ela voltou
e mostrou-se enfim...
por dentro e por fora
-vês! só só isto! assim...
e eu tomei cada gomo
para não a perder
ingerindo o sonho
do nosso escrever
e estávamos as duas
neste doce partilhar
de termos aprendido
a escrever no ar
e quando por fim
olhei a casca vazia
cheirava a quente
e a maresia
voltei a fechá-la
para a recordar
memória habitada
do verbo amar!
- fim -
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