terça-feira, 28 de abril de 2009

incêndio interior

há uns tempos atrás tive umas colegas que me chamavam carinhosamente a "bombeirinha"...






foi sempre o que fiz da vida...

ando por aqui e por ali
a apagar os mais pequenos fogos



enquanto me incendeio...

domingo, 26 de abril de 2009

um filme, duas frases...

"um país sem poetas é um país derrotado"




"matar um homem para defender uma ideia não é defender uma ideia
é matar um homem!"









in, "a nossa música"de jean luc godard

domingo, 19 de abril de 2009

no gelo que queima também faz frio










(foto:sigur rós)

duas de sophia - a grande

Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal

"Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre."









Soror Mariana

"Cortaram os fenos
Agora a minha solidão vê-se melhor..."







sophia de mello breyner andresen

like spinning plates


Like Spinning Plates - Radiohead





"While you make pretty speeches,
I'm being cut to shreds
You feed me to the lions,
a delicate balance

And this just feels like spinning plates
I'm living in cloud cuckoo land
And this just feels like spinning plates
My body is floating down the muddy river"












(mais uma volta e a menina não paga!)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

explicação do alpendre





"porque em seu peito nunca tive aberta
a veia exacta para lhe ser sangue"

















daniel faria
in, poesia
edições quasi




(foto:inês ramos - "ballad of reading gaol")

terça-feira, 14 de abril de 2009

acabaram-se, por ora, os posts de auto-comiseração

é altura de pegar nas armas e voltar à luta!


não fosse este um blog de "vómitos emocionais"
teria que apagar tudo

mas...
a minha escrita em blog serve para isso mesmo
para colocar no écran a "tritura-torturada-azeda"
até deixar o estômago vazio
pronto para um jejum de purificação



não sei que águas estas depois da tempestade
mas atento... à lentidão fluida do líquido
ao resvalar da rocha mais quêda no leito, na praia
para aprender a largar do bote
a largar do-que-resta-jangada o que mais a afunda
seguindo em rumo incauto -única via de quem quer viver!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

por falar em abril...

"faz-me espécie" as pessoas que vivem presas à liberdade que têm...

às voltas de lugar nenhum

quando te perguntei se voltavas era disto que eu falava:

o vazio no lugar do coração
lado esquerdo da vida em abismo
nenhuma letra a cumprir o poema
pele enrugada na nudez de todos os lugares assombrados
nenhum chão

segunda-feira, 6 de abril de 2009

"(...) faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e uma luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e tranquilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro - pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da voracidade de viver. Lembrou-se de escrever a Ulisses contando o que se passara, mas nada se passara dizível em palavras escritas ou faladas, era bom aquele sistema que Ulisses inventara: o que não soubesse ou não pudesse dizer, escreveria e lhe daria o papel mudamente - mas dessa vez não havia sequer o que contar."









clarice lispector
in, "uma aprendizagem ou o livro dos prazeres"
relógio de água

sexta-feira, 3 de abril de 2009

a felicidade é uma questão hortícola

houve uma altura da minha vida em que eu pensava que a palavra derrota nunca existiria. nessa altura era gorda e passeava-me pomposamente com o meu orgulho por tudo onde era sítio. era ainda mais detestável do que sou agora e podem perguntar à vontade, como é que isso é possível?? (mais ainda???) mas juro-vos que não sei responder.

nessa altura "a minha entrada era a saída de muitos" e nessa entrada eu saía sempre ilesa a qualquer tipo de catástrofe.

a primeira vez que me lembro da morte foi a do meu avô. acho que a minha mãe estava grávida da minha irmã mais nova, e isso justificou para muitos o facto dela em pequena entortar os olhos até ao tutano e dizerem que tinha sido dos nervos acumulados pela minha mãe nessa altura. agora usa lentes de contacto e tudo está resolvido.

da segunda vez a morte foi mais rebuscada e levou-me a irmã mais velha, que eu amava de coração inteiro, e partilhava comigo um quarto exíguo no 2º bronx daqui da zona. mas eu não me convenci logo da derrota. era teimosa (ainda sou muito) e inchada de orgulho. talvez por isso mantivesse o porte enfartado que me caracterizou até há bem poucos anos. um pouco mais tarde, quando me apercebi melhor do sucessido (sou lenta na consciência) emagreci alguns quilos e soube (aí sim pela primeira vez) o que era a queda.

parecia que só a partir daí começava a perder coisas.

a identidade por exemplo, tive uma crise e depois tive muitas mais (ainda tenho).
a ingenuidade, por teimosia, só a perdi mais tarde. mas acho que foi desde aí que comecei a simular que ainda a tinha (o que é pior que perdê-la).

depois perdi uma tia e passado pouco tempo um primo de linha directa que era por acaso aquele que eu mais simpatizava.

perdi a minha madrinha que foi a pessoa que exageradamente mais me mimou e de quem eu fugia a sete pés (não gosto de demasiados mimos! hiaccc!!). perdi um colega da faculdade que era da minha idade e isso fez-me muita impressão.

entretanto perdi as contas às contas que a morte ia fazendo e percebi que ela me ronda desde sempre. desde os corredores da casa de onde fugi para me resgatar (será possível resgatar-mo-nos quando não nos temos?).
nessa mesma casa cuidei até morrer das minhas duas avós e percebi que a única distância entre mim e elas seriam alguns anos.

aprendi a ir perdendo.

perdi amigos que tinha, que não tinha e que julgava que ter.
perdi namorados (poucos...aliás 1 apenas...). flirt's (muitos - eu sempre julguei que eram namorados mas alguém me elucidou que não)

o meu acunpuntor diz que eu não tenho muito prazer na vida por ter a coluna torta e ser ligeiramente marreca. receitou-me uns chás e a leitura de alguns contos porno na net. eu até lhe dou uma certa razão pois simpatizo com a medicina chinesa. comecei então a ler algumas coisas muito mal escritas que eu pensava que não pudessem existir. (a vida abre-nos sempre horizontes mesmo que esses horizontes sejam limitados). tentei corrigir a "tortura" praticando yoga mas irrito-me sempre com a música ambiente supostamente agradável e não consigo relaxar. já tentei fazer em casa ao som de keith e de pj harvey mas a minha professora diz que não é muito ético (eu acho é que ela não os conhece). acho ainda que foi por essa mesma falta de ética que fui excomungada há uns anos e deixei de ser católica.

até seria budista não fossem os meus problemas de indisciplina com a carne e afins.

algumas pessoas dizem que eu tenho um karma muito pesado em cima, mas eu acho que é mesmo o meu corpo a pensar que ainda é gordo.

a semana passada perdi o meu pai, e acho que na semana anterior já tinha perdido o namorado e não sabia. (seria um flirt? não sou boa com conceitos.)

a minha mãe acha-me estranha. a minha irmã, seis anos mais nova, acha que devia "orientar-me" na vida, pois já tenho idade para isso, e que me estou a tornar numa hippie tonta. o meu cunhado opina que será difícil eu "arranjar um homem" devido ao meu ar "demasiado independente" - segundo ele isso assusta, e os homens não gostam de ser assustados! buuuuu!!

tenho uma grande amiga que diz que eu tenho traumas mas não sou traumatizada. nos tempos que correm, pelos vistos, isso é esquisito e devia tratar-me. todos devem ter um trauma, nem que seja o trauma de não ter traumas nenhuns.


enfim, posso dizer que a minha vida não é monótona e eu até sei fazer algumas escolhas: mudei de sintra para a rinchoa por causa de uma laranjeira e de um alpendre que dá para a serra. e com esta vista ao longe... longe... sonho um dia poder vir a ter uma horta de frutos biológicos (que está na moda e fica sempre bem)para sair finalmente do mundo, isolar-me e ser feliz!

da janela

descobri há pouco que existe um lidl no estádio de alvalade.

paisagem

vejo-os sôfregos. procurando os bancos novos vermelhos e azuis da cp. arrastam-se. talvez tenham que ir buscar os filhos às amas ilegais e remungonas por mais um dia de atraso no pagamento e na hora.

sento-me, sinto-me uma burguesa por me conseguir sentar em tão grande multidão. aquele ali passa fome, sente-se nos olhos que passa fome. (às vezes chego-me a sentir culpada por ainda ter pão na mesa quando chegar ao destino, mas enfim... o mundo não é perfeito e eu também não.)

gosto particularmente dos jovens pueris e no auge da vida a falar da crise e vagamente de abril, ao mesmo tempo que escrevem sms's às namoradas em telemóveis topo de gama pagos pelos pais-classe-média-baixa como sinal de avanço tecnológico.

dizem que a linha de sintra é insegura, mas eu sempre andei nestes comboios como se caminhasse no corredor da casa que não tenho. faz frio, e hoje até é bom vir no comboio em hora de ponta. aquece.