quinta-feira, 27 de abril de 2006

o esterco do mundo


Tenho amigos que rezam a Simone Weil
Há muitos anos reparo em Flannery O'Connor

Rezar deve ser como essas coisas
que dizemos a alguém que dorme
temos e não temos esperança alguma
só a beleza pode descer para salvar-nos
quando as barreiras levantadas
permitirem
às imagens, aos ruídos, aos espúrios sedimentos
integrar o magnífico
cortejo sobre os escombros

Os orantes são mendigos de última hora
remexem profundamente através do vazio
até que neles
o vazio deflagre

S. Paulo explica-o na Primeira Carta aos Coríntios,
"até agora somos o esterco do mundo"
citação que Flannery trazia à cabeceira

josé tolentino mendonça
in, a estrada branca
assírio e alvim 2005

(foto: elena retfalvi, "anatomy of surrender")

2 comentários:

CVJ disse...

Cada um tem a sua maneira de rezar... de falar a um amigo(a). Comigo ele(ela) nunca dorme.
Bonito espaço e profundo.
Vou linkar-vos
Força

Patrícia Evans disse...

shiuuuuuuu....*