quinta-feira, 11 de maio de 2006


Tocava-te como se tocam as árvores seculares que não podem ser entendidas
que não se podem sequer perscrutar
por entre a densa folhagem que as envolve

árvores de raízes fundas,
mais fundas que a humanidade
mais densas que o pensamento
mais negras que o interior da terra...

tocava-te para não mais conseguir entender-te
para não mais conseguir entender-me
para não mais querer chegar a sítio nenhum

tocava-te como quem toca uma história inventada
um livro inacabado
um caco de vidro lacerante

mergulho os dedos no interior da árvore
da seiva pegajosa à qual fico colada

fico sempre presa
eu que não tenho raízes

eu, aquela em quem o vento bate
como se o lhano em mim fosse um argumento adaptado
a todas as árvores
a todas as raízes
a todo o negro que a terra comporta

e olho-te agora sem te tocar...

o sangue em mim tem sempre alguma coisa de verde!
(quem disse que a cor é uma coisa fácil?)


(foto: katia chausheva "untitled")

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