Tocava-te como se tocam as árvores seculares que não podem ser entendidas
que não se podem sequer perscrutar
por entre a densa folhagem que as envolve
árvores de raízes fundas,
mais fundas que a humanidade
mais densas que o pensamento
mais negras que o interior da terra...
tocava-te para não mais conseguir entender-te
para não mais conseguir entender-me
para não mais querer chegar a sítio nenhum
tocava-te como quem toca uma história inventada
um livro inacabado
um caco de vidro lacerante
mergulho os dedos no interior da árvore
da seiva pegajosa à qual fico colada
fico sempre presa
eu que não tenho raízes
eu, aquela em quem o vento bate
como se o lhano em mim fosse um argumento adaptado
a todas as árvores
a todas as raízes
a todo o negro que a terra comporta
e olho-te agora sem te tocar...
o sangue em mim tem sempre alguma coisa de verde!
(quem disse que a cor é uma coisa fácil?)
(foto: katia chausheva "untitled")
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