segunda-feira, 27 de novembro de 2006




relembro-te...

estavas assim, lá ao fundo às escuras



e eu tinha tudo preparado para a fuga

gabardina comprida

mala amarela com areia e incenso

a contagem do tempo por segundos

e uma espécie de vela
como quem pede luz à boca dos teus versos

Suspirava elsinore pelos poros cheios de rouge...


E tu colocaste-te na plateia (en/a)cenando um adeus

e de polaroid em punho tiraste-te-me um retrato!




foste tu que fugiste ali para a noite escura

onde te esperava o empregado de bar!



"que o dia te seja limpo!"



(fotos e citação: mario cesariny)

sábado, 25 de novembro de 2006


Hoje ao fazer limpezas encontrei uma aranha.

"lá fora estaria tão melhor!"

toquei-a com um só dedo para que subisse
para a poder soltar...
e ao tentar salvá-la matei-a!!

pensei:

tão frágil esta teia deixada
este resquício onde já não ouso colocar as mãos






somos sempre esta coisa a matar
somos sempre esta coisa a morrer
sem saber bem o que fazer...











(foto:jean frederic bourdier - "spider empire")

sexta-feira, 24 de novembro de 2006


Não sou eu que reclamo com a vida
é a vida que reclama por mim!



























(foto: gunther uecker "composition"1963
pregos pintados sobre painel
colecção berardo)



uma toalha de linho sobre a mesa

algumas migalhas

e o resto do pão que sobrou de ontem...


















(foto: cig harvey - "tread softly")

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

sexta-feira, 17 de novembro de 2006



pensava que emagrecendo
retiraria de mim o peso do mundo

ao invés disso
descobri que os casacos também obedecem às leis naturais

que as golas crescem sempre à medida do meu pescoço

cada vez mais fino

cada vez mais esguio

(estrangulando ou desnudando conforme a estação)

descobri que até as botoeiras aguardam encontro marcado
com aquele que nelas entra

e sai

e o encontro é sempre uma coisa apertada
e a despedida é sempre uma coisa que doi

(tenho tanto frio sem casaco!)

sinto o corpo em contínuo emagrar
como se quisesse por ele só ser nada

(como foi ele adivinhar?)


o meu casaco encolhe religiosamente
consoante a mutação da minha medida


e os botões apesar de frágeis
ficam presos até magoar...

ficam soltos
permitindo o frio entrar...











(foto: cig harvey "serie - tread softly III")

quinta-feira, 16 de novembro de 2006


hoje amanheci já velha...
tão velha que não me reconheci!

























(foto: fernando lemos-"a realidade pelo telhado" - 1949/52)

segunda-feira, 13 de novembro de 2006




Será que me Vês assim?


(isto que sinto...)



carne prestes a rasgar

quietude inerte

olhos fechados

inchados

abalados muito adentro

do dentro

do centro...

de Ti...


façam-me o que quiserem

removam-me os restos mortais

atirem-me para uma campa

transformem-me em cinza ardente

lava incerta

magma a estalar



(esta terra...)



vou ficar calada

muda

queda

em tom de resvalar

em tom de deixar soar

apenas a carne aberta

da ferida que em vez de curar desperta


corpo (não sei já se) meu

harpa exsangue

vasos pregados no madeiro

artérias sonantes

ao toque das mãos

das Tuas mãos já feridas

esburacadas

sofridas...


(toma as minhas-são só isto!)


Ouve-se uma música frágil

Será a harpa feita do Teu madeiro?

Serão as veias tocadas pelas Tuas mãos?

Um dia talvez Te dê... (Oh Deus!)

o meu grito inteiro...

e golfadas de sangue jorrarão!



Até lá fico quieta

carne rasgada

ferida aberta

muda

calada

queda





não tenho forças já...



(foto: lilya corneli- "lost gravity 5")

sábado, 11 de novembro de 2006



existem coisas que são para escolher
e outras que não se escolhem...

existem coisas que são para acolher
e outras que não se acolhem...








há que colher sempre (todas) as coisas...





(foto: katia chausheva -"grape")


















Tu sabes que eu gosto de calma
e de serenidade
e gosto de ondas
e de mar
e da maresia nos cabelos a bailar

Tu sabes que às vezes me entristeço
por não saber onde estar
por não Te saber amar

e aí é só melancolia
um soturno frágil
um rasgar o rumo
uma imagem inquieta com piano ao fundo

e Tu sabes que depois da calma
por vezes surge a rajada
o clarão tenebroso
e a trovoada

e o vento breve fica furacão
e está tão perto de mim
que me faz trovão!

(nunca nos conhecemos... pois não?)

e a imagem serena quando chegas até mim
abraçando-me forte
dizendo-me: "Estou aqui"

e no meio da confusão e da bofetada
e no meio de tudo
e no meio de nada

o fim volta a principiar
e morte em mim triunfa?

(um dia há-de triunfar!...)









(foto:lilya corneli - "wind is your wings 4"
work with maria mann)

quinta-feira, 9 de novembro de 2006


Deixem-me fechar os olhos só por um instante... só um bocadinho sim?

(já disse que estou cansada? já?...)
















(foto:josé barrias - "série: vestígios"
desenho, carvão sobre papel e elástico em caixa acrílica 2000
colecção berardo)

sexta-feira, 3 de novembro de 2006




o nada é único lugar que encontro para de facto existir...






(foto:donnie mackay "the bench")