sexta-feira, 17 de novembro de 2006



pensava que emagrecendo
retiraria de mim o peso do mundo

ao invés disso
descobri que os casacos também obedecem às leis naturais

que as golas crescem sempre à medida do meu pescoço

cada vez mais fino

cada vez mais esguio

(estrangulando ou desnudando conforme a estação)

descobri que até as botoeiras aguardam encontro marcado
com aquele que nelas entra

e sai

e o encontro é sempre uma coisa apertada
e a despedida é sempre uma coisa que doi

(tenho tanto frio sem casaco!)

sinto o corpo em contínuo emagrar
como se quisesse por ele só ser nada

(como foi ele adivinhar?)


o meu casaco encolhe religiosamente
consoante a mutação da minha medida


e os botões apesar de frágeis
ficam presos até magoar...

ficam soltos
permitindo o frio entrar...











(foto: cig harvey "serie - tread softly III")

4 comentários:

Yakunna disse...

Que ritmo!! Começa devagar e depois desce em virtiginosa cascata de palavavreado poetico!!

Adorei!
Fazes-me apetecer voltar a escrever umas frases quase poeticas que em tempos deixei de escrever!!

beijos!
ate logo!

Bernarda

bruno disse...

"o meu casaco encolhe religiosamente".
Certeiro, de tão simples.

boas Noites.

Anónimo disse...

querida bernarda, mais uma vez obrigada pela visita entusiasta! também me motivas a escrever mais!

temos que nos "desinstalar" uns aos outros para que possamos "criar" cada vez mais e melhor... (e não falo só da escrita...)

um grande beijinho

bruno béu - obrigada também!
bons dias

abraço :)

Yakunna disse...

Até logo! ;)

B.
hehehe