quinta-feira, 6 de dezembro de 2007


hoje pela manhã
esta estação parece-me igual a ontem à noite
algumas horas de distância e tudo igual

os comboios chegam e partem
e eu ando neles
como quem anda de barco
num alto-mar de trovoadas

na dormência acordada dos dias
vou deixando passar estações
vou acotovelando entradas
forçando saídas


(este comboio não tem destino
não pára aqui, já...porquê?)




esta estação pela manhã
parece-me igual a ontem à noite

parto cedo
chego tarde
nunca é de dia aqui


esta estação pela manhã
parece-me igual à noite



eu fiquei no cais de embarque à tua espera
passaram por mim todas as pessoas que te teriam acompanhado naquele comboio
no final de tudo
cais vazio

o revisor sai por fim
ombros pesados da viagem
caminha com a certeza refreada de capitão de um barco alvoraçado
de capitão que não teve a força de controlar as velas

caminha em direcção a mim como se viesse em recado


os olhos brilhantes de contenção
o silêncio quebrado de calar
entrega-me em mãos o teu bilhete obliterado







hoje pela manhã
esta estação parece-me igual à noite
alguns anos de distância e tudo igual











(foto:cédric friggeri- "train")

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