Serviria eu apenas para saciar o vosso apetite voraz?
Serviria apenas para vos servir o manjar dos deuses caro senhor?
E após o banquete?
Queríeis que tocasse qual instrumento?
Em que nota?
Em que ambiente?
Queríeis que vos servisse o sangue de outros animais ou da minha própria jugular?
E agora senhor?
Estais saciado?
Mantende a energia que por ora vos detém senhor e tocareis muitas valsas para que outras senhoras dancem e vos sirvam outros banquetes…
De quantas servas precisais até ao fim de vossos dias senhor?
Quantas senhoras formosas e luzidias atraireis para essa vossa prisão de paixão efémera?
Quantas senhoras cairão no enredo invisível de vossos movimentos voluptuosos e sequiosos de vida?
Estais contente com a vida senhor?
Com a vossa vida enleada de uma liberdade sequiosa de prisões…
sequiosa e distante do constante agrilhoar das senhoras que ora vos servem…
Peço-vos que olhais essas senhoras nos olhos…
Senhoras de olhos brilhantes semelhantes à luminosidade da vossa pele…
Não olheis apenas o brilho,
Não vos detenhais apenas na cor ou no formato pois tais elementos são apenas superficiais e qualquer um,
qualquer outro senhor os pode decifrar…
Detenhai-vos na profundidade dos olhos brilhantes que vos penetram…
Olhos lavados da pureza momentânea que só o amor consegue trazer…
Sedes agora capaz de trair essa pureza apenas pelo prazer momentâneo que quereis saciar?
Sedes agora capaz de continuar a saciar-vos dessa pureza sem a perceberdes?
Interrompei o banquete pois o suculento sangue que essas senhoras vos servem pode coagular ao inundar-se de outros sentimentos que a alma não busca e que surgem no pairar frio de olhos agora baços
Deixai essas senhoras vislumbrar agora os olhos frios e olhai-as uma vez mais nos olhos
Perscrutai a profundidade de cada pálpebra,
de cada pupila,
de cada menina nos olhos das senhoras…
dessas senhoras que vos imploram agora de joelhos pela paixão de outrora agora desfeita
Sede firme com elas!
Não cesseis de as olhar!
enxugai-lhes as lágrimas senhor e dizei-lhes olhos nos olhos,
olhos na profundidade dos olhos das senhoras,
dizei-lhes simplesmente a verdade do que vos vai na alma…
Dizei-lhes tudo mesmo que a verdade seja crua…
Peço-vos apenas que as olheis com os olhos que tiverdes no momento…assim evitareis a possibilidade que a paixão agora inerte se transforme em sentimentos irascíveis…
E aquelas senhoras que vos estiverem a servir o banquete, continuarão a servi-lo convosco…em vós senhor…
Não silencieis mais a vossa alma senhor, pois se o fizerdes serás tão pequeno quanto os pequenos… e o vosso banquete apenas será ilusório pois só vos saciará a vós…
a vós senhor, só conseguirei servir o sangue coagulado de um coração que parou há algum tempo…
Recordais o tempo em que muitas nobres e castas senhoras morriam por vós senhores?
Neste tempo em que vos escrevo, muitas senhoras, são mortas e continuam a deambular pelas ruas, pelas praças, pelas vilas, pelas montanhas e pelos mares.
São senhoras mortas por dentro por não terem visto perante elas,
olhos límpidos,
olhos claros,
olhos verdadeiros
nem que fosse de uma verdade que por momentos as fizesse sofrer…
Essas senhoras acabam por morrer silenciadas pelo próprio silêncio perpetuado por vós senhores,
pela falta de coragem que vós tendes…
pelo silêncio que vós teimais em continuar a sobrepor às palavras que poderiam ser ditas pelas vossas bocas,
pelos vossos poros,
pelas vossas almas ainda que distantes…
E olhai novamente para as senhoras que vos servem o banquete,
para elas divino,
para elas prenhe de elemento mais alto que a terra e o céu podem conter…
São essas senhoras que vos servem o banquete que tomais senhor!!!
porque não olhais para elas??
porque vos saciais apenas do envólucro do ser que elas ocupam senhor??
Olhai para elas senhor!!
Olhai simplesmente...
e entregai a vossa vida a algo mais!
(1998)
(foto: aleksei pechnikov - "against the river")
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