quinta-feira, 12 de outubro de 2006



ando cansada sabes...

há anos que me deito nesta banheira cheia de mim

deste sabor a sal que me conserva submersa

quase ilesa quando saio por enxugar

não te posso prometer o mar

porque estou confinada a esta banheira

limite do que sou

não tenho águas limpas que te deem força

ou um rio imenso a correr constante

sem o variar das estações

não te vou enganar...

mais não posso fazer do que molhar-te ainda mais

do que agitar as águas aparentemente calmas

da banheira

desta banheira branca

estou cansada sabes...

precisaria de coragem para abrir o ralo

deixar a água sair lentamente

cabeça

pescoço

ombros

barriga

pernas

últimas gotas a sairem-me pelos pés

até ficar vazia

seca

e depois...

depois esperaria que o ar me comovesse para além da pele

que as gotas evaporassem em redor de mim

e aí deixaria que fosses tu a abrir a torneira inchada

ferro preso da memória

ando cansada sabes...

VOU ABRIR O RALO!!

VEM!!!

(foto: marilia campos - "sem título")

4 comentários:

Anónimo disse...

Refrescantes correm as palavras que jorram da tua escrita.

Parabéns por elas Sophia!

Anónimo disse...

nuvem branca obrigada...

refrescante também a tua presença aqui!

gosto do teu nome!

Anónimo disse...

não te enganes, és sempre mais do que o teu limite: basta sair da água e voar...

Kisa disse...

e esta necessidade de sair de nós - ou de termos quem nos faça sair de nós - para termos companhia na solidão, no silêncio... no quebrar das rotinas.

adoro as tuas metáforas... inspiram-me!

beijos doces