ando cansada sabes...
há anos que me deito nesta banheira cheia de mim
deste sabor a sal que me conserva submersa
quase ilesa quando saio por enxugar
não te posso prometer o mar
porque estou confinada a esta banheira
limite do que sou
não tenho águas limpas que te deem força
ou um rio imenso a correr constante
sem o variar das estações
não te vou enganar...
mais não posso fazer do que molhar-te ainda mais
do que agitar as águas aparentemente calmas
da banheira
desta banheira branca
estou cansada sabes...
precisaria de coragem para abrir o ralo
deixar a água sair lentamente
cabeça
pescoço
ombros
barriga
pernas
últimas gotas a sairem-me pelos pés
até ficar vazia
seca
e depois...
depois esperaria que o ar me comovesse para além da pele
que as gotas evaporassem em redor de mim
e aí deixaria que fosses tu a abrir a torneira inchada
ferro preso da memória
ando cansada sabes...
VOU ABRIR O RALO!!
VEM!!!
(foto: marilia campos - "sem título")
4 comentários:
Refrescantes correm as palavras que jorram da tua escrita.
Parabéns por elas Sophia!
nuvem branca obrigada...
refrescante também a tua presença aqui!
gosto do teu nome!
não te enganes, és sempre mais do que o teu limite: basta sair da água e voar...
e esta necessidade de sair de nós - ou de termos quem nos faça sair de nós - para termos companhia na solidão, no silêncio... no quebrar das rotinas.
adoro as tuas metáforas... inspiram-me!
beijos doces
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