terça-feira, 4 de outubro de 2005


"(...) existe um apego que ao longo da vida se estreita como um círculo de metal, e quanto mais a juventude passa mais forte ele se torna. Nós os dois chamávamos-lhe "o toque do corpo", porque já não é sequer um abraço, é aquele hábito, dos que sempre dormiram juntos, de se encostarem um ao outro antes de adormecer, uma recombinação química do calor de cada um. E para dormirmos bem basta-nos apenas o toque, a vírgula de um cotovelo ou outra mais macia, de uma anca. É no momento de ir para a cama que se vê se um casal é unido. Aquele que adormece enquanto o outro gira ainda pela casa não só envelheceu como também já se esqueceu da juventude. Depois de ela morrer passava as noites sentado no maple e nem chegava a passar pelo sono. Se algumas vezes adormeci foi de dia, com a luz forte, aquela luz que alivia um pouco o cansaço."

in "A Senhora dos Açores"
de Romana Petri

(foto: haemoglobin)

1 comentário:

Luz Dourada disse...

Gostei... mas prefiro dormir sozinha...