sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Deixavas-me à míngua durante dias a fio...

eu ia emagrecendo na falta de ti!

o corpo cansado e enfraquecido suplicava-te pelo fruto (outrora somente de desejo) agora de uma necessidade incontrolável de prolongar a vida! (só mais um pouco de vida...)

Tu não percebias isso!

Escondias o meu único alimento por detrás das costas... e não falavas!
nunca falavas comigo!

parecias dizer:

-vem! vem buscá-lo! não sei oferecer-to!

Ao príncipio pensei que o teu silêncio era apenas uma ausência de palavras e que um dia saberia comunicar com ele!

Neste momento o teu silêncio é um grito que eu não sei apaziguar...

...um grito que me ensurdece por dentro, que me faz analfabeta na tentativa vã de escrita de sentimentos teus...

suplicas-me por víveres sem saberes que o que tens atrás das costas é o meu (nosso) alimento!

reclamas compaixão trocando as letras com que o dizes, soltando ruídos ocos e imperceptíveis!

Peço-te desculpa, grito-to que não percebo!
Peço-te que me repitas o que dizes!

Quero entender-te!! (grito)
QUERO ENTENDER-TE!!!! (o meu grito solta um eco que nem sequer já eu reconheço)

percebo por momentos que tens fome, e aponto o caminho para o fruto que escondes!
tento esgueirar-me á tua frente para que o vejas- só para te explicar! (queria tanto explicar-te...)

digo que será ele alimentar-nos! Ainda que fraca aceno-te! levanto os braços, abro as mãos... mantenho-me a custo de pé...

Soltas um grito ainda mais profundo e sucumbes à minha frente!

tinhas o fruto nas tuas mãos!
tinhas o fruto nas tuas mãos, meu amor!
tinhas a vida prolongada à tua frente!

Vejo-te no chão e perco as últimas forças que me restavam!

Vou morrer de fome...sei!
vou morrer na fome de um fruto que caiu das tuas costas e jaz também agora à minha frente!
Ao lado do teu corpo silencioso enfim!

(foto: cig harvey)


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