Deixavas-me à míngua durante dias a fio...
eu ia emagrecendo na falta de ti!
o corpo cansado e enfraquecido suplicava-te pelo fruto (outrora somente de desejo) agora de uma necessidade incontrolável de prolongar a vida! (só mais um pouco de vida...)
Tu não percebias isso!
Escondias o meu único alimento por detrás das costas... e não falavas!
nunca falavas comigo!
parecias dizer:
-vem! vem buscá-lo! não sei oferecer-to!
Ao príncipio pensei que o teu silêncio era apenas uma ausência de palavras e que um dia saberia comunicar com ele!
Neste momento o teu silêncio é um grito que eu não sei apaziguar...
...um grito que me ensurdece por dentro, que me faz analfabeta na tentativa vã de escrita de sentimentos teus...
suplicas-me por víveres sem saberes que o que tens atrás das costas é o meu (nosso) alimento!
reclamas compaixão trocando as letras com que o dizes, soltando ruídos ocos e imperceptíveis!
Peço-te desculpa, grito-to que não percebo!
Peço-te que me repitas o que dizes!
Quero entender-te!! (grito)
QUERO ENTENDER-TE!!!! (o meu grito solta um eco que nem sequer já eu reconheço)
percebo por momentos que tens fome, e aponto o caminho para o fruto que escondes!
tento esgueirar-me á tua frente para que o vejas- só para te explicar! (queria tanto explicar-te...)
digo que será ele alimentar-nos! Ainda que fraca aceno-te! levanto os braços, abro as mãos... mantenho-me a custo de pé...
Soltas um grito ainda mais profundo e sucumbes à minha frente!
tinhas o fruto nas tuas mãos!
tinhas o fruto nas tuas mãos, meu amor!
tinhas a vida prolongada à tua frente!
Vejo-te no chão e perco as últimas forças que me restavam!
Vou morrer de fome...sei!
vou morrer na fome de um fruto que caiu das tuas costas e jaz também agora à minha frente!
Ao lado do teu corpo silencioso enfim!
(foto: cig harvey)
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