quarta-feira, 3 de janeiro de 2007


...depois de ter aguardado a última hora
desço à rua onde soam a doze badaladas...
(nunca me tinham soado cá dentro tão belas!)

percorro em linha recta o caminho que me leva até à varanda do paço

casais beijam-se, serve-se champanhe,
existem crianças
e novos e velhos...

há luzes no ar!

Encostada ao varandim olho para trás, para o velho edifício do café Paris, a torre da igreja,
as luzes (novamente as luzes) nas árvores centenárias...


luzes que em breve se apagarão...
beleza imensa esta, aqui tão perto
(sem poder chegar...)

Escorrem-me algumas lágrimas pela face...

Percorro as ruas desertas...
ninguém...
Nos primeiros minutos do ano...
ninguém...
(nem eu...)

Subo ao andar cimeiro que me dá tecto
Acendo as velas e o incenso
apago as luzes
(ficam só as de fora sempre)

aninho-me no sofá improvisado
na vida improvisada deste corpo

rezo em frente ao ícone
vela antiga prestes a apagar








muita gente me perguntou acerca desta última noite:

"vais ficar sozinha?"

e cá por dentro, na resposta inaudível aos que de fora perguntam
respondia-me:

Não é uma questão de ficar
ou estar sozinha...
é uma questão de se ser só...

(... e neste momento não me apetece nem sequer ser
nem ao pé de mim
nem ao pé de tanta gente...)



adormeci por fim embalada certamente pelos anjos
numa cantiga de ninar para não ter medo...

(dos dias novos...
os dias sim!são sempre novos...mas...)


foi a última noite
foi a primeira
do ano

(a noite vem sempre antes do dia-disseste-me)




(foto: jean frederic bourdier - happy new year with the angels)

4 comentários:

Anónimo disse...

"Não é uma questão de ficar
ou estar sozinha...
é uma questão de se ser só..." eu já escrevi isto exactamente assim linda:)...nem sei o que diga...parece que nos conhecemos muito bem;)
****Pat

Anónimo disse...

teme ser só quem não gosta de si. anseia a solidão quem se basta. compreende esta solidão quem é igual, gomo da mesma laranja...
que este novo ano seja também o início de um novo ciclo, grande como a tua alma inteira só e acompanhada, conforme se sentir melhor... mas tendo sempre o que merece: a plenitude da paz!
abraço apertadinho querida amiga!

Anónimo disse...

Peço desculpa às comentaristas ali de cima mas "alturas" há de silêncio. Isso, e mais nada.
Silenciaste-o, sophia.

Anónimo disse...

:)