quarta-feira, 24 de janeiro de 2007


instalei-me numa casa perto de uma vila a alguns kilometros da cidade onde te conheci.

a casa é isolada, os vizinhos poucos e já sem forças para me delatarem (penso).

o dinheiro que tinha, entreguei-o ao senhorio desconfiado em troca de uma chave. daria para a primeira renda e mais alguns dias de pouco sustento.

tenho que procurar trabalho.
(tenho que me procurar)

amigos, já não me lembro deles...
eras estranho - diziam-me subtilmente
já não sei se foram eles que se afastaram, se fui eu que me afastei deles por amor a ti.

(amor, essa palavra indecifrável)



agora estou livre, amarrada à prisão do medo de não conseguir viver sem ti.

saio pouco, apenas o necessário para comprar pão, queijo e alguma fruta.
as lojistas acham-me esquiva, tentam estabelecer conversa - não dou uma palavra, só o essencial para sair da mercearia com um saco na mão.

não posso correr o risco de me encerrares novamente no quarto escuro...
será que ainda me procuras?
será que algum dia me encontrarei?

ando ainda perdida...
não sei o que sou
em que me tornei

de manhã acordo estarrecida depois de noites a fio mal dormidas.
tomo banho rápido para não ver as marcas reflectidas no espelho partido que restou do último inquilino.

penso - um dia vão passar!
um dia têm que passar...

não...na pele já nada resta...
mas no corpo tenho ainda as tuas mãos agarradas aos sítios onde me tocaste...

larga-me!
não consigo largar-te!


esta casa onde me resguardo é ainda um sítio por habitar.


(foto: velislava - "take a cigarette")

4 comentários:

rota_aérea disse...

;) E a história continua... Mto bem!!! :) sinto que se traça aqui o esboço de algo mais... que bom poder estar presente...

1 abrç

Anónimo disse...

Apagar as marcas de alguém que nos tatuou como o seu tactear é tão dificil quanto decifriar o Amor. São como rugas que marcam, não os anos de vida, mas o tempo...Esse tempo que finda mas não termina jamais.
Abraço apertadinho para ti minha Princesa, que vives no meu coração e que o inundas de luz quando acordas nele e te espreguiças.**Pat

MF disse...

Olá Sophia,

leio-te sempre com muito parazer.
bjs

Maria Figueiredo

p.s.:

www.mar-por-dentro.blogspot.com

Kisa disse...

essa alma sempre usando as asas... essas ausências tão presentes... esse querer esquecer que tanto tarda...

beijo

Força... vermelha!