instalei-me numa casa perto de uma vila a alguns kilometros da cidade onde te conheci.
a casa é isolada, os vizinhos poucos e já sem forças para me delatarem (penso).
o dinheiro que tinha, entreguei-o ao senhorio desconfiado em troca de uma chave. daria para a primeira renda e mais alguns dias de pouco sustento.
tenho que procurar trabalho.
(tenho que me procurar)
amigos, já não me lembro deles...
eras estranho - diziam-me subtilmente
já não sei se foram eles que se afastaram, se fui eu que me afastei deles por amor a ti.
(amor, essa palavra indecifrável)
agora estou livre, amarrada à prisão do medo de não conseguir viver sem ti.
saio pouco, apenas o necessário para comprar pão, queijo e alguma fruta.
as lojistas acham-me esquiva, tentam estabelecer conversa - não dou uma palavra, só o essencial para sair da mercearia com um saco na mão.
não posso correr o risco de me encerrares novamente no quarto escuro...
será que ainda me procuras?
será que algum dia me encontrarei?
ando ainda perdida...
não sei o que sou
em que me tornei
de manhã acordo estarrecida depois de noites a fio mal dormidas.
tomo banho rápido para não ver as marcas reflectidas no espelho partido que restou do último inquilino.
penso - um dia vão passar!
um dia têm que passar...
não...na pele já nada resta...
mas no corpo tenho ainda as tuas mãos agarradas aos sítios onde me tocaste...
larga-me!
não consigo largar-te!
esta casa onde me resguardo é ainda um sítio por habitar.
(foto: velislava - "take a cigarette")
4 comentários:
;) E a história continua... Mto bem!!! :) sinto que se traça aqui o esboço de algo mais... que bom poder estar presente...
1 abrç
Apagar as marcas de alguém que nos tatuou como o seu tactear é tão dificil quanto decifriar o Amor. São como rugas que marcam, não os anos de vida, mas o tempo...Esse tempo que finda mas não termina jamais.
Abraço apertadinho para ti minha Princesa, que vives no meu coração e que o inundas de luz quando acordas nele e te espreguiças.**Pat
Olá Sophia,
leio-te sempre com muito parazer.
bjs
Maria Figueiredo
p.s.:
www.mar-por-dentro.blogspot.com
essa alma sempre usando as asas... essas ausências tão presentes... esse querer esquecer que tanto tarda...
beijo
Força... vermelha!
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