quarta-feira, 10 de janeiro de 2007



Entre nós havia sempre uma espécie de jogo viciado

Tu lançavas os dados e eu caía invariavelmente aos teus pés como se fosses a sombra irreconhecível de mim

Encerravas-me no quarto escuro dias a fio...

cordas apertadas nos pulsos já sem sangue
mordaça na boca para não soletrar palavras feridas-dizias


Ao cair da tarde saías da tua vida anónima
e entravas no quarto escuro para me visitar

Subias os estores rangentes da memória
e mostravas-me a noite escura de que os dias eram mergulhados

era o momento de me soltares da cadei(r)a
sussurrando-me ao ouvido palavras dóceis
como se nunca antes me tivesses aprisionado

(ternos modos, face dura)

eu entrançava os dedos nas tuas rugas prematuras
e a medo - dizia sim ao que me propusesses
(apesar de tudo tinha-te cá dentro- tão forte)

o amor contigo era sempre um misto de ternura e violência
de carinho e ódio...





um dia deixaste as cordas laças
e eu, experimentando o gancho de cabelo na fechadura da porta
consegui fugir


levei comigo apenas a gabardine branca
(única capa com que que me vestias)


continua a perseguir-me a imagem que tenho de ti:
sou eu, no quarto escuro sempre.





(foto: maviej boryna - "no way out")

22 comentários:

Anónimo disse...

Quantos quartos escuros podemos encontrar na vida? A quantas histórias de prisões e fugas conseguiremos resistir?
Queria tanto saber...
Beijo na tua alma livre :)

Anónimo disse...

não vou proteger-te - já sabes! - a verdade é que nunca sabemos...

um grande beijo também para ti!

:)

musalia disse...

espantosamente belo e...real...
sem cordas, sem fechaduras, a prisão. nem sempre conseguimos fugir mesmo que não exista porta...

beijos.

Anónimo disse...

Obrigada pela visita agradável...
um abraço musalia...

Tobias, o Terrível! disse...

Sophia

Forte forte
dos mais bem conseguidos, acho eu.

Fizeste-a tão real.

Tobias, o Terrível! disse...

Sophia,

escreve um livro tá bem?

Anónimo disse...

:)

obrigada tupariz... (deixaste-me sem palavras...)

vou passando pelo teu "canto" ultimamente em silêncio...

um abraço

Anónimo disse...

Ola minha Princeza:)
Será que isto, que esta muito bem escrito, não pode ser o início de uma texto dramático, para teatro ou até cinema:p Eu gostava de saber o que lhes acontece;)

****Pat

Anónimo disse...

onde é que arranjas estas magníficas fotos? grande texto. do melhor.

gonçalo

Anónimo disse...

patricia - humm... vou estudar a tua proposta... gostava muito...

talvez com a ajuda de uma amiga escritora que eu cá sei... he he he

beijo grande com abraço incluído

Anónimo disse...

Gonçalo - tenta www.altphotos.com

foi um achado para mim!!

abraço

Anónimo disse...

sophia,
Deixei um beijinho para ti lá no meu canto das cigarras,
agora deixo
um outro para este belo texto:)
e um abraçinho forte.

Anónimo disse...

Minha princesa vamos a isso, podemos ir fazendo o texto por
e-mail, assim haja tempo, as duas em tese é complicado;)
****Pat

Anónimo disse...

obrigada pelo abracinho forte...

serás sempre bem-vinda neste lugar sempre a habitar...

Anónimo disse...

e tua amiga Pat... será uma honra acompanhar-te ao som deste teclado por decifrar...

um abracinho para ti querida

caminante disse...

¿Cómo se puede encerrar tanta belleza, tanta intensidad de alma, en tan pocas palabras?
Te felicito.
Un fortísimo abrazo.

Yakunna disse...

Um brinde aos quartos escuros.... e à porta que os abre à claridade!!

Uau amiguinha...que é isto? Donde te vem tanta inspiração??? Também quero... alias...se tivesse tempo para escrever tinha aqui no que escreveste suficiente inspiração!!

Continua assim!!
bj bernarda

rota_aérea disse...

É incrível como podes ter tanta luz no quarto escuro... e podes presa ser tão livre...

Gosto das tuas palavras...

Um abrç p/ lá do tempo...

Anónimo disse...

Caminhante: já sentia a tua falta por estes lados!

obrigada pela visita

um abraço forte também para ti!

Anónimo disse...

Querida Bernarda-Nhua!! um brinde!!

brindaremos sempre ao Feminino e a Sintra... e aos quartos escuros prontos s serem desvendados pela luz...

quanto ao tempo... o tempo é uma coisa que não é bem nossa... por sinal escrevo quando menos tempo tenho para escrever...

um dia eu explico...

um grande abraço para ti- uma grande (re)criadora de palavras!

Vêmo-nos no quarto escuro onde iremos juntas brilhar-tenho a certeza - só isso nos pode libertar!

Anónimo disse...

rota aerea - já te expliquei que a luz que possa ter não é bem minha... e tu sabes de onde vem! quando vem...

também gosto muito das tuas palavras... e dos teus silêncios...

um grande abraço forte forte

Anónimo disse...

Saborear o teu texto,... é bom! Palavras que saem da pena de um computador,... mas por isso ditas num contexto enriquecem o Teu SER!