domingo, 15 de junho de 2008

when our mouths are filled with uninvited tongues of others*


não, não estava tão branco
e ao contrário da imagem
eu descia a rua desgrenhada em direcção a ti
ficaste no carro parado como se soubesses que eu iria
como se... não soubesses...

(terra de não-saber esta em que caminhamos)

mas não... também não caminhávamos
nem estávamos parados
nem nada... daqui... entendes?

era uma espécie de espanto
uma espécie de mancha
de assombro, de negro
era uma espécie sem espécie
dois corpos sem nome

carregamos mortos nos bolsos
sem nunca podermos despir os casacos
sem nunca chegarmos a nós
mortos em bolsos sem fundo...




chamas-te vento ou ventania
eu posso chamar-me acácia ou sophia...
nada






chorei...
sabes que choro sempre que te encontro
e que choro também sempre quando partes



(de quantas chegadas e partidas precisaremos para desaprender de chorar?)



os soluços voltaram na madrugada já sem ti
contigo no corpo sem corpo

os soluços voltaram até adormecer de cansaço



de manhã
a tua camisa intacta por debaixo da almofada
nem uma gota de sangue para relembrar o crime











(nunca me perdoarei por não te saber fundir...)

























(foto:torse tabletop)
*cataracts - andrew bird

2 comentários:

bruno disse...

esse verso do andré está muito bem achado.
abraço.

Yakunna disse...

que as lágrimas que te correm, sejam por ti e por mais ninguém!

Que os outros, os que estão fora de ti, não as sabem conter, não as sabem sentir, só tu! Por isso, poupa as lágrimas para ti...

adoro-te miuda gira!!
( e adoro a tua poesia!!)
temos de fazer uma sessão, que te parece!?!?